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Professora titular aposentada de ciência política da USP e pesquisadora do Cebrap.

Descrição de chapéu Eleições 2018

O voto dos pobres

Lula e Bolsonaro sabem que não se chega ao Planalto sem apoio da maioria dos brasileiros de baixa renda

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A dois meses das eleições, só quem gosta de brigar com os fatos pode duvidar que a disputa pelo Palácio do Planalto se dará entre Lula e Bolsonaro. Numa eleição dominada por temas socioeconômicos, eles sabem que não se chega lá sem apoio da maioria dos brasileiros mais pobres.

Hoje, o petista desfruta de robusta vantagem entre os milhões de eleitores de renda irrisória: o dobro das intenções de voto dos 70% da população na faixa de até dois salários mínimos, apurou o Datafolha.
Partidários otimistas do presidente —e analistas afoitos— acreditam na força do Auxílio Brasil, há pouco vitaminado, para apequenar tal diferença. Mas não é bem assim, diz quem entende do riscado.

A favela de Paraisópolis, em São Paulo - Eduardo Knapp/Folhapress

Diante da urna o cidadão não vota por gratidão, lembrou o cientista político Antonio Lavareda, ouvido por Claudio Couto, da FGV (Fundação Getúlio Vargas), no podcast "Fora da política não há salvação". Sua excelência, como o homenageava o sábio Ulysses Guimarães, escolhe de olho no futuro, baseado no retrospecto que estiver apto a fazer das ações do candidato, e as compara às de seu principal desafiante. (Para os politólogos, essa verdade atende pela pomposa alcunha de voto retrospectivo-prospectivo.)
Fosse o adversário do ex-capitão um candidato com a cara da elite e nada a mostrar em benefício dos mais vulneráveis, os R$ 600 por mês garantidos só até dezembro, nunca se esqueça —talvez pudessem conduzir o dedo do eleitor diante da urna eletrônica em favor de quem tanto a difama.

De fato, desde 2006, o Bolsa Família cristalizou sólida base popular de apoio a Lula, especialmente no Nordeste, como mostraram vários estudos, entre os quais artigo pioneiro de Jairo Nicolau (FGV). Outras iniciativas a ele foram se somando.

Marta Arretche (USP) encontrou efeitos eleitorais favoráveis ao PT nos municípios beneficiados pelo Luz para Todos, que estendeu a iluminação elétrica aos grotões que dependiam de querosene e da tração humana e animal, mesmo neste século 21. Sem falar na nacionalização do Programa de Saúde da Família, que levou SUS de casa em casa. E nas políticas de acesso à universidade —Prouni, cotas, graças às quais disparou o número de pobres e negros entre os ingressantes de primeira geração no ensino superior.

Se os eleitores buscam no passado dos candidatos arrimo para as esperanças futuras, não há Auxílio Brasil capaz de borrar, lá no rés do chão, o contraste entre os idos de Lula e a experiência recente da morte de familiares na pandemia; do emprego perdido; do pequeno negócio falido; e, sobretudo, da inflação que espreme os ganhos já de si parcos e incertos.

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