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Professora titular aposentada de ciência política da USP e pesquisadora do Cebrap.

Israel, Hamas e a decência

Israelenses e palestinos têm igual direito a um Estado no espaço que ambos consideram seu

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Para um humanista deveria ser fácil tomar posição frente ao conflito entre Israel e o Hamas. Israelenses e palestinos têm igual direito a um Estado no espaço que ambos consideram seu. O ataque da organização terrorista contra moradores dos kibutzim próximos à Faixa de Gaza só merece repúdio.

O mesmo se aplica à destruição de moradias e instalações públicas, ao sofrimento agravado pelo bloqueio de luz, acesso a mantimentos e água e –acima de tudo– às mortes por atacado de civis, resultantes do revide de Israel à atrocidade de 7/10.

Soldados israelenses no norte de Gaza - Daphné Lemelin/AFP

A invasão de Gaza deve cessar, assim como os bombardeios ordenados pelas autoridades palestinas contra não combatentes do outro lado da fronteira. Além disso, é imperioso conter e punir os ataques dos colonos judeus da Margem Ocidental do Jordão aos vizinhos palestinos. Os mais de cem reféns feitos em território israelense precisam ser liberados, assim como deve ser negociada com presteza a soltura de palestinos presos no Estado judeu por motivos políticos. Netanyahu, os colonos fundamentalistas e o Hamas são feitos da mesma lama da extrema direita.

Mas o que deveria ser fácil é tudo menos isso. Pelo mundo afora, uma coorte de ditos progressistas abraça uma forma perversa de solidariedade aos palestinos. Ignora os feitos do Hamas e, não raro, parece concordar com seu objetivo: a erradicação do Estado de Israel. Às vezes, seus pronunciamentos não se distinguem da praga do antissemitismo.

O historiador britânico Simon Sebag Montefiore e o cientista político teuto-americano Yascha Mounk atribuem tal posição à crescente influência na esquerda universitária de teorias como a da descolonização, empregada para caracterizar os israelenses como opressores brancos, um prolongamento do Ocidente rico e colonialista. Pouco se lhes dá que a história de Israel seja toda outra: a dos fugitivos dos pogroms europeus; dos sobreviventes do Holocausto; e dos numerosos contingentes de judeus –morenos como os palestinos– expulsos dos países árabes.

No Brasil, tais teorias se fundem e, por vezes, dão roupagem nova a discursos de esquerda forjados nos tempos da Guerra Fria, das lutas de libertação nacional, da utopia da revolução socialista –e especialmente da oposição ao imperialismo norte-americano. Esta estabelecia o norte para a ação: sempre contra os EUA e aliados. Tempos, também, em que a democracia não era um valor universal e o respeito aos direitos humanos contava menos que a libertação dos povos.

Ideias hoje incompatíveis com o compromisso democrático e o reconhecimento do direito de todos a uma vida decente.

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