Jornalista e roteirista de TV.
É legal, mas será que é moral?
Acabou com o meu dilema de ir ao cabeleireiro ou não
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A história de Jihad Al-Suwaiti, que escalou durante dias uma parede para se sentar à janela do hospital em que a mãe estava internada por causa da Covid-19, acabou com o meu dilema de ir ao cabeleireiro ou não.
O drama do palestino me trouxe para a nossa realidade: mais de mil mortos por dia, a caminho do triste recorde de 100 mil vidas perdidas na pandemia. Como muitos ao redor, que fizeram do isolamento uma bandeira contra a disseminação da doença, passei a lidar com várias questões já resolvidas na legalidade, mas que esbarram na moralidade.
Bares, restaurantes, cabeleireiros, shoppings voltaram a funcionar com a anuência de governadores e prefeitos, de olho na queda de popularidade. Mas a retomada de muitas atividades foi considerada precipitada por especialistas, ancorados nas informações de que o país atingiu um platô, que segue estagnado num alto patamar, de mortes e contaminações.
Não há nada de ilegal, desde que respeitada a distância social e o uso de máscara, quando exigido, em pedir um chope no boteco, fazer as unhas ou mesmo surfar. Mas a dificuldade que muitos enfrentam é não pensar, "que tipo de pessoa sou eu para me preocupar com coisas tão comezinhas diante do desastre que vivemos?".
O chope, a manicure, as férias podem esperar, mas há outros dilemas que têm carga emocional e psicológica. Posso convidar um amigo para vir a minha casa? Andar de bicicleta? E visitar meus pais? Ou devo permanecer em casa, sem concessões pessoais, mas coletivamente engajada?
Sem a bússola do Estado, é cada um por si na tentativa de equilibrar o comportamento, sem ferir valores morais. Podemos nos autolegislar, com autonomia para estabelecer o que é correto, como dizia Kant. Mas é possível colocar o dever no centro das preocupações ao mesmo tempo em que tentamos fazer o mínimo para manter a lucidez?
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