Siga a folha

Jornalista e roteirista de TV.

Bolsonaro desperta o pior em todos nós

Meu nível de empatia acompanha a variação do PIB

Continue lendo com acesso ilimitado.
Aproveite esta oferta especial:

Oferta Exclusiva

6 meses por R$ 1,90/mês

SOMENTE ESSA SEMANA

ASSINE A FOLHA

Cancele quando quiser

Notícias no momento em que acontecem, newsletters exclusivas e mais de 200 colunas e blogs.
Apoie o jornalismo profissional.

Seremos melhores pessoas depois que tudo isso passar? Diante da pergunta repetida mil vezes desde o começo da pandemia, sempre fui categórica: não. O medo, as incertezas, as dificuldades individuais apenas serviriam para acentuar as características com as quais fomos forjados. Ninguém ficou mais legal porque aprendeu a fazer pão, macramê ou tie-dye. Quem é bom, caridoso, empático tem tido todas as oportunidades para expressar seus sentimentos. Quem é mau... Bem, já deixei de acreditar que a maioria das pessoas tenha salvação.

Mas, em se tratando de Brasil, nada é tão simples. Afora tudo o que temos enfrentado com a pandemia, o fator Bolsonaro é capaz de transformar um monge num sujeito cheio de raiva. Não sou um monge.

Leio a notícia de que o líder do movimento americano antimáscaras morreu de Covid, aos 30 anos. Deveria lamentar? Sim. Senti alguma coisa? Darwin sabe o que faz. Como ter empatia quando um negacionista é vítima de sua própria ignorância? Como não mandar um foda-se mental ao pensar que o sujeito contribuiu para que essa doença se espalhasse e fizesse dezenas, centenas, milhares de outras vítimas?

Sei que deveria. Fui criada à base de “faça o bem sem olhar a quem” e vinha tendo relativo sucesso. Guardo nomes, mas não guardo rancores. Sempre fui uma pessoa do bem. Não confunda com “pessoa de bem”, o pior tipo de ser humano, aquele que se descreve como “conservador”, “de família” e que faz arminha com a mão.

A cada “e daí?”, “não sou coveiro”, “país de maricas”, ditos enquanto mais gente morre e mais o país emburaca numa crise política sem fim, mais o meu nível de empatia acompanha a variação do PIB. Se você ainda consegue ouvir “cloroquina” ou “voto impresso” e ainda não atirou o chinelo em direção à televisão, na esperança de acertar o excelentíssimo mandatário, por favor, quero o nome do remédio. Os únicos que conheço se chamam impeachment e cadeia. Enquanto eles não vêm, empatia, sororidade, afeto e todos os meus melhores sentimentos estão cada vez mais seletivos.

Político golpista passa mal na cadeia. E daí? Cantor britânico antivacina morre. Não sou coveira. Deputado que quebrou placa com nome de vereadora assassinada quer recorrer a cortes internacionais de direitos humanos (hahahahahahaha) por causa de sua prisão. Histeria. Bolsonaristas reclamam de censura nas redes sociais. Maricas. Deputada governista terá que indenizar artista por uso indevido de música. Vai ficar chorando? O apresentador besta homofóbico perdeu todos os patrocinadores. Como se diz mesmo em francês? Caguei.

Receba notícias da Folha

Cadastre-se e escolha quais newsletters gostaria de receber

Ativar newsletters

Relacionadas