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Jornalista e roteirista de TV.

Amber Heard foi vítima de seus advogados

Se ela tivesse contado tudo, o desfecho do caso poderia ter sido outro

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Não há mocinho ou mocinha na história protagonizada pelo ator Johnny Depp e pela atriz Amber Heard, embora eles sejam vítimas do que se revelou um relacionamento abusivo, recheado de episódios de violência física e psicológica dos dois lados. Não há dúvidas, ao menos para quem acompanha a novela sobre o casal com distanciamento e isenção.

E, se Amber tivesse contado o drama todo, sem omitir o fato de que era uma das peças na engrenagem da dinâmica destrutiva no relacionamento dos dois, o desfecho do caso que foi parar nos tribunais poderia ter sido outro.

Em 2020, Depp perdeu a ação que movia contra o jornal The Sun, na Inglaterra, que chamou o ator de "espancador de mulheres". O juiz entendeu que as informações publicadas eram "substancialmente verdadeiras" e a estratégia da defesa acabou sendo um tiro no pé. O julgamento expos os excessos com drogas e seu comportamento instável. Mas a violência que acontecia em mão dupla não ganhou atenção, diferentemente do que aconteceu dois anos depois nos Estados Unidos.

Johnny Depp perdeu papéis e o carimbo de agressor parecia ter ficado em seu histórico para sempre. A opinião pública continuava ao lado de Amber desde as denúncias feitas por ela, em 2016. Mas, então, veio a apreciação do processo de difamação movido por ele. Julgamento midiático, acompanhado por fãs histéricos, pela imprensa e por canais nas redes sociais que ganharam milhões ao comentar tudo o que acontecia nas semanas em que os depoimentos foram dados.

E a imagem da mulher indefesa foi sendo desconstruída à medida que os advogados de Depp provaram que o ator também sofreu agressões físicas e psicológicas. Foi uma bomba na opinião pública, que se virou contra a atriz, a ponto de ignorar que não havia nada de saudável na relação dos dois. Johnny Depp, alcoolizado, drogado ou sóbrio, certamente foi violento, mas não foi o único. Venceu o processo de difamação contra Amber, ainda que houvesse provas contra ele, ignoradas no julgamento conduzido nos Estados Unidos. O documentário que estreou recentemente na Netflix, mostra em três episódios como acabou sendo uma briga desproporcional, e que evidências da violência foram desconsideradas porque supostamente não cabiam num processo de difamação.

O que chama atenção é que os advogados de Amber Heard tenham montado uma defesa embasada numa versão editada sobre o relacionamento do casal e feito a atriz talvez acreditar que a sua palavra seria suficiente para que a história ficasse em pé. Que a denúncia, feita na efervescência do movimento #metoo, não passaria pelo escrutínio público. E, principalmente, que não vale mentir ou omitir fatos diante da justiça. Uma coisa é ser vítima de violência. Outra diferente é ser agente atuante numa relação doentia.

Amber saiu do julgamento como mentirosa e manipuladora, apesar de ser evidente que sofreu abusos. O que fica claro também é que ela foi vítima da equipe de defesa que não fez o mínimo, defendê-la dela mesma, da ideia equivocada de que ela era a única mártir nessa tragédia protagonizada pelo casal. A atriz, provavelmente, fragilizada pela relação destrutiva, pelo fim do conto de fadas, pode ter se deixado manipular por jornalistas, assessores e advogados que viram nela a chance de surfar a onda de um capítulo transformador na sociedade ancorado pelo movimento feminista. A questão é que não se faz revolução com meias-verdades.

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