Mauricio Stycer

Jornalista e crítico de TV, autor de "Topa Tudo por Dinheiro". É mestre em sociologia pela USP.

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Disputa entre Johnny Depp e Amber Heard foi julgada no Tribunal do TikTok

Séries sobre processo questionam impacto das redes sociais no veredicto

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Para quem gosta de fofoca, poucos assuntos estão à altura dos incidentes que os atores Johnny Depp e Amber Heard vêm protagonizando desde 2009, quando se conheceram nas filmagens de "Diário de um Jornalista Bêbado". De lá para cá, eles alimentaram o noticiário, sempre com muito barulho, com cenas do namoro, casamento, separação e, por fim, ações judiciais.

Há inúmeros documentários a respeito desse relacionamento tumultuado e abusivo. As concorrentes HBO e Netflix oferecem produtos semelhantes, ambos baseados no processo que Depp moveu contra Amber em fevereiro de 2019, nos Estados Unidos.

Foi a segunda ação tentada pelo ator. Em abril de 2018, Depp processou o tabloide sensacionalista "The Sun", na Inglaterra, que o descreveu como um "espancador de mulheres". O juiz deu ganho de causa ao jornal, concluindo que as supostas agressões cometidas por Depp contra Amber teriam sido comprovadas.

A ação que serve de matéria-prima para as duas séries foi motivada por um artigo publicado pela atriz em dezembro de 2018, na página de opinião do "The Washington Post". Vivia-se, então, o auge do movimento MeToo, que amplificou denúncias de assédio sexual.

Amber se apresenta no texto como vítima de "violência sexual" e afirma. "Há dois anos, tornei-me uma figura pública que representa a violência doméstica e senti toda a força da ira da nossa cultura contra mulheres que falam abertamente."

Mesmo sem ser nominalmente citado, Depp argumentou que essa e outras afirmações do artigo eram difamatórias. Por uma manobra dos seus advogados, o caso foi a júri popular em Fairfax, na Virgínia, distante da residência dos dois atores e da sede do jornal. Para completar a montagem do circo, a juíza, contrariando um pedido da atriz, autorizou a transmissão pela televisão de todos os detalhes do julgamento.

Tanto "Johnny Depp x Amber Heard" (Netflix) quanto "Johnny vs. Amber" (HBO) se fartam com o material produzido dentro do tribunal. É tentador dizer que fazem sensacionalismo em cima do sensacionalismo, mas conseguem, em alguns momentos, lançar olhares críticos sobre o espetáculo.

Cientes do caráter de reality show do julgamento, os dois atores entregam desempenhos canastrões. Ainda que sem o figurino típico, Depp está o próprio Jack Sparrow, personagem que encarnou nos inúmeros filmes da franquia "Piratas do Caribe". Já Amber tem o cuidado de falar e chorar sempre olhando para os jurados.

Montagem de Amber Heard e Johnny Depp chegando ao tribunal de Fairfax - Samuel Corum - 11.abr.22/AFP

Ambas as séries documentais constatam que o julgamento gerou milhões de vídeos no TikTok, a grande maioria favorável a Depp. Mas apenas a série da HBO se aprofunda sobre as origens e consequências do fato.

Três são os aspectos principais desse "Tribunal do TikTok", como foi chamado. Ainda que faltem provas cabais, parece claro que houve uma orquestração a favor do ator nas redes sociais. Amber foi, de fato, massacrada durante o julgamento.

Alguns influenciadores entrevistados confirmam que lucraram muito com a publicação incessante de vídeos sobre a ação judicial. "Um jornalista tradicional tem muita cautela em como a história é mostrada, checando obsessivamente os fatos. Eu nem sempre faço isso. E é muito simples, porque só se trata de fofoca", diz uma tiktoker à HBO.

A terceira e mais importante questão é de difícil comprovação. O julgamento durou seis semanas e os sete jurados iam para casa toda noite. A juíza pediu que não olhassem o que era publicado na internet, mas como garantir que as redes sociais não tiveram impacto sobre o veredicto?

Influenciado ou não pelo Tribunal da Internet, nunca saberemos, o júri deu ganho de causa a Johnny Depp e condenou Amber a pagar uma indenização milionária ao ex-marido.

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