Siga a folha

Jornalista e roteirista de TV.

Sou uma péssima feminista

Querer ser desejada na maturidade é só libido saudável, não necessidade de aprovação

Assinantes podem enviar 5 artigos por dia com acesso livre

ASSINE ou FAÇA LOGIN

Continue lendo com acesso ilimitado.
Aproveite esta oferta especial:

Oferta Exclusiva

6 meses por R$ 1,90/mês

SOMENTE ESSA SEMANA

ASSINE A FOLHA

Cancele quando quiser

Notícias no momento em que acontecem, newsletters exclusivas e mais de 200 colunas e blogs.
Apoie o jornalismo profissional.

Sei que estou errada, e algumas amigas também, mas confesso que entre a objetificação e a invisibilidade tenho caprichado no supino e aumentei o número de agachamentos. Deveria estar aliviada ao chegar a essa fase da vida em que entro num bar e os olhares masculinos não se fixam em mim feito os de adolescentes jogando Minecraft e que não sou mais abordada a caminho do banheiro por um desconhecido charmoso que ficou de olho nas minhas saboneteiras. Me pego pensando: qual o problema de uma objetificaçãozinha? Sim, sou uma péssima feminista.

Mulheres são valorizadas por sua aparência. Somos historicamente reprimidas e forçadas a nos moldar a um ideal masculino. Tratadas como objeto. Não surpreende que uma modelo de 35 anos seja considerada velha. Aos olhos da sociedade já não tem o viço e o frescor que se espera dela. Acredite, juventude ainda é o verdadeiro padrão. O colágeno bombando é muito mais valorizado do que bunda sem celulite. Primeiro somos julgadas e depois esquecidas, como um produto vencido, que já não serve mais para estar na prateleira. Vou contar uma coisa para vocês novinhas, que devem estar me achando uma veia sem noção: a invisibilidade é uma merda e tão opressiva quanto o oposto.

Estou no mesmo parágrafo da história e sei que corro o risco de perder a carteirinha do sindicato ao pensar que tudo o que quero, às vezes, é ser tratada como um indivíduo sexual e desejável. O meu maior fetiche, aos 52 anos, é o mesmo que o de muitas amigas dessa faixa etária: ser objetificada. Não tem nada a ver com validação masculina, coisa que, honestamente, nunca foi uma questão. Fui uma adolescente desajeitada, com postura péssima e uma leve pancinha, mas muito bem resolvida e com uma coleção de namorados. Depois da fase "não tenho tipo, tenho pressa", foquei no que me interessa, homens inteligentes e divertidos, e a recíproca me foi favorável. Talvez isso me dê algum lugar de fala, mesmo que isso soe como sincericídio, mas querer ser notada e desejada na maturidade é só libido saudável, não necessidade de aprovação. Gosto de pensar que é objetificação consensual.

Em minha defesa, preciso contar que já fiz isso com alguns homens e eles não gostaram. Alexandre, por exemplo, era um cara muito gostoso, tão gostoso que demorei dois meses para me dar conta de como ele era burro. Foi o tempo do tesão abrandar e eu prestar atenção no que ele falava. Era uma bela de uma porta e eu deveria ter desconfiado quando ele contou que frequentava a academia duas vezes por dia. Bem, prioridades. Quando percebeu meu real interesse, fui acusada de objetificação, muito antes de conhecer a sua palavra e seu conceito. Bastante ofendido, Alexandre foi embora e levou seu pirex, que ele fez questão de voltar para buscar, e aquele transverso abdominal impressionante. Nunca mais o vi. Já me senti culpada, hoje considero reparação histórica.

Receba notícias da Folha

Cadastre-se e escolha quais newsletters gostaria de receber

Ativar newsletters

Relacionadas