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Pesquisador do Centro Brasileiro de Análise e Planejamento, ensina relações internacionais na UFABC

Descrição de chapéu Coronavírus

Em breve, a onda da pandemia se transformará no grande muro da xenofobia

Imigrantes serão ainda mais reprimidos em nome da saúde pública

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Muitos brasileiros e latino-americanos observaram sem grande preocupação o confinamento geral da Europa, evento de uma radicalidade dificilmente imaginável dias atrás.

Enquanto isso, seus eventuais amigos e parentes italianos, portugueses, espanhóis e franceses esgoelavam seus respetivos hinos nacionais das varandas. Eles estão trancados em casa. Eles são reféns de um vírus.

Ela ainda vive as suas primeiras semanas, mas a crise do coronavírus já acelerou a história, desvendando as forças e fraquezas das potências globais e expondo o sistema econômico e social a um violento teste estrutural.

Primeira potência a se reerguer, a China vai aproveitar a disseminação da pandemia para consolidar a sua posição dominante na economia mundial.

Com a retomada da indústria e o conhecimento sanitário acumulado, a China deve criar, em breve, o seu próprio Plano Marshall para socorrer países assolados em troca, claro, de um novo alinhamento diplomático.

A pandemia também poderá ser o choque legitimador que a União Europeia precisa para avançar na sua integração política.

É consensual que só uma ação coordenada e robusta pode impedir o colapso dos Estados-membros.

A UE deve assumir novos poderes políticos e fiscais para lançar, nos próximos meses, um programa nos moldes do New Deal, com foco na indústria, tecnologia e inovação.

Líderes como Emmanuel Macron terão um papel central nessa revolução. Ao pedir “solenemente” para os franceses para lavarem as mãos, Macron teve finalmente o seu momento napoleônico.

Ele lembrou o imperador francês tocando nos leprosos durante a campanha do Egito, uma imagem memorializada no quadro clássico de Antoine-Jean Gros de 1804.

Quanto aos Estados Unidos, a gritante e escandalosa inépcia moral e técnica do atual presidente, que continua tratando a situação como um filme de ficção científica de videocassete, deve levar à consolidação do papel de atores não estatais no funcionamento da comunidade.

Ao contrário de todas as outras sociedades mundiais, os Estados Unidos dispõem de um consórcio filantrópico-empresarial poderoso o suficiente para atenuar as consequências da incompetência do poder central.

Bill Gates, para citar apenas o exemplo mais simbólico, deve criar um ministério da Saúde paralelo para combater a pandemia através da sua Fundação. Na Europa, a crise fortalecerá o poder público. Nos Estados Unidos, os grandes conglomerados privados.

Para o resto do mundo, as mudanças estruturais nas três superpotências —China, Europa e Estados Unidos— serão vividas à distância.

A crise sanitária será obviamente usada como um pretexto para abrir uma nova era de protecionismo. Imigrantes serão ainda mais reprimidos em nome da saúde pública.

Estrangeiros serão acolhidos em estruturas paralelas, e vistos serão concedidos em função da condição física. Turistas e expatriados chineses, europeus e americanos serão convidados a circular o menos possível em países incapazes de conter a pandemia.

Em breve, a onda da pandemia se transformará no grande muro da xenofobia.

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