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Jornalista e crítico de TV, autor de "Topa Tudo por Dinheiro". É mestre em sociologia pela USP.

Emissoras não dão satisfação sobre decisões de programação

Apesar da boa audiência, não haverá quarta temporada de 'Sob Pressão'

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​Quem viu televisão entre as décadas de 1960 e 1990 com certeza assistiu a alguma novela assinada por Ivani Ribeiro (1916-1995) ou ao menos ouviu falar dela, que foi a mais prolífica autora do gênero no Brasil, com 47 títulos.

Ao menos duas de suas novelas são consideradas clássicas: “Mulheres de Areia” e “A Viagem”. Exibidas na Tupi em 1973 e 1975, respectivamente, ambas foram objeto de remakes na Globo, em 1993 e 1994.

Eva Wilma em 'Mulheres de Areia', novela escrita por Ivani Ribeiro - Divulgação

Cleide de Freitas Alves Ferreira, seu nome verdadeiro, começou no rádio, como a maioria dos autores pioneiros na TV. Estreou em 1963 na TV Excelsior e, ao longo de mais de três décadas, trabalhou para outras quatro emissoras.

Na biografia que publicou no ano passado, “Ivani Ribeiro, a Dama das Emoções” (editora Novo Século, R$ 39,90, 432 págs.), Carolline Rodrigues reconstitui a vida e a trajetória profissional da autora em ritmo de novela das 18h —forçando a mão no tom emocional, mas sem expor detalhes incômodos.

Silvio de Abreu, hoje o principal executivo da Globo na área de teledramaturgia, foi ator em três novelas de Ivani, “A Muralha” (1968), “Os Estranhos” e “Dez Vidas” (estas duas últimas de 1969). Ele conta que os textos dela foram fundamentais para entender como se escrevia um folhetim. 

“Ivani não só foi a nossa melhor novelista, mas é a própria novela brasileira”, diz.

Em um raro depoimento que foge do tom de louvação, Lauro César Muniz lamenta que Ivani tenha sido muito mal aproveitada em seu período como autora da Globo (1982-95). Ela recebeu encomendas apenas para os horários menos nobres, das 18h e 19h, e se limitou, com exceção de um texto inédito (“Final Feliz”), a produzir seis remakes de novelas suas já antigas.

“Na TV Globo, ela sempre esteve, de forma digna e humilde, servindo aos horários mais baixos, por determinação acovardada de colegas que temiam sua concorrência”, diz o autor de “Escalada”, “O Casarão” e “Roda de Fogo”, entre muitos outros títulos marcantes. “Um absurdo que a história da telenovela precisa investigar com rigor para fazer justiça à grande Ivani Ribeiro”, acrescenta Muniz.

A biografia não explora esse tema, infelizmente. Mas mesmo que tenha tentado jogar luz sobre o episódio, imagino que Carolline Rodrigues deve ter tido dificuldades para descobrir as razões que levaram a Globo a “encostar” a autora.

De um modo geral, as emissoras consideram que decisões sobre a programação são estratégicas. E, por essa razão, não julgam necessário dar satisfação pública sobre as razões que as levaram a fazer as suas opções.

Mudanças de horário de exibição de programas, adiamentos de produções anunciadas, cancelamentos de séries etc. A todo momento, o espectador é surpreendido por decisões dos canais de TV sem que tenha direito de saber o que está por trás das novidades. 

Um caso recente, que tratei em meu blog nesta semana, diz respeito à decisão da Globo de não prosseguir com a série “Sob Pressão” após o final da terceira temporada, que estreia em 2 de maio. 

Apesar da boa audiência, das críticas positivas, das vendas para vários países e do interesse em todos os envolvidos na produção, a emissora informou que não haverá quarta temporada. 

“Os ciclos se encerram e novos projetos surgem nessa nossa grade dinâmica e diversa”, justificou o canal de forma vaga e despreocupada com o público. Lamentável.

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