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Jornalista e crítico de TV, autor de "Topa Tudo por Dinheiro". É mestre em sociologia pela USP.

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Série 'Gaslit' termina domingo com novos heróis e vilões do caso Watergate

Não há assuntos batidos; sempre há novos pontos de vista e personagens esquecidos, ensina a atração do Starzplay

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Vai ao ar neste domingo (12) o último episódio de "Gaslit", uma das séries mais surpreendentes do ano. Cinquenta anos depois do Watergate, possivelmente o escândalo político mais conhecido da história contemporânea, esta produção consegue oferecer um ponto de vista inteiramente diferente sobre os acontecimentos.

A versão consagrada do caso, a que ficou no imaginário, é a protagonizada pelos obstinados repórteres Carl Bernstein e Bob Woodward, vividos respectivamente por Dustin Hoffman e Robert Redford no filme "Todos os Homens do Presidente". Apoiados pelo editor-executivo do "The Washington Post", Ben Bradlee, eles conduziram a investigação jornalística que levou Richard Nixon a ser o primeiro presidente americano a renunciar do cargo.

Julia Roberts durante o lançamento da série "Gaslit", em Nova York - Andrew Kelly/Reuters

"Gaslit" ignora quase completamente esses heróis. A série do Starzplay está interessada em verificar o papel que outras figuras, hoje esquecidas, tiveram na história. Por exemplo, Frank Wills, o jovem negro e desempregado que arrumou um trabalho como segurança noturno do prédio Watergate, ganhando um salário semanal insuficiente para pagar o aluguel.

Foi Wills, numa inspeção, que notou a presença de fita adesiva cobrindo uma fechadura do edifício, e chamou a polícia. Seu gesto levou à prisão em flagrante de cinco homens que haviam invadido o escritório do Partido Democrata para colocar escutas e recolher documentos. "Gaslit" descreve Wills como um homem humilde, insatisfeito com o pequeno aumento salarial que recebeu e pouco à vontade ao ser pintado como herói por uma jornalista negra que o entrevista.

"Gaslit" também se debruça sobre os muito "idiotas", nas palavras de um deles, que assessoravam Nixon naqueles anos. Ainda que em alguns momentos escorregue para a galhofa, a série conta com um elenco tão bom que a descrição daquele universo de subalternos irresponsáveis, medíocres e bajuladores parece convincente.

Aliás, tudo indica que se trata de um universo atemporal, como saberão reconhecer os fãs de "Veep" (HBO), a saudosa série em que Julia Louis-Dreyfus vivia Selina Meyer, a vice-presidente dos Estados Unidos. O ponto alto de "Gaslit" é o retrato que apresenta de Martha Mitchell, a mulher do então procurador-geral da República, John N. Mitchell.

Tratava-se de uma socialite deslumbrada, que gostava de contar fofocas do poder aos jornalistas e cujo excesso de sinceridade abalou o governo Nixon.

Personagem de múltiplas camadas, Martha ganhou uma dimensão extraordinária na interpretação de Julia Roberts, que, não à toa, é o cartão de visitas da série. Sean Penn, totalmente transfigurado por uma prótese e maquiagem, vive o papel do marido.

A série é baseada na primeira temporada do podcast "Slow Burn", realizado pelo jornalista Leon Neyfakh para a revista eletrônica Slate, em 2017. Investigações jornalísticas deste tipo, feitas por jovens profissionais para novas mídias, têm alimentado a indústria audiovisual, sedenta por boas histórias.

Entre outras séries recentes, nascidas de trabalhos jornalísticos apresentados em podcast, lembro de "The Dropout" (Star +), "We Crashed" (Apple TV+), "Caso Evandro" (Globoplay) e "The Shrink Next Door" (Apple TV +).

Mais interessante ainda, no caso de "Gaslit", é a sugestão que oferece a qualquer roteirista. Não há assuntos batidos; tudo depende do ponto de vista. Ainda havia muito o que contar sobre a história do caso Watergate.

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