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Jornalista e crítico de TV, autor de "Topa Tudo por Dinheiro". É mestre em sociologia pela USP.

O fim de uma era de comédia na TV

Termina neste domingo 'Curb Your Entusiasm', uma das melhores séries de humor já transmitidas

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Vai ao ar neste domingo (7), no Max, o último episódio da 12ª temporada de "Curb Your Entusiasm". Tudo indica que será o episódio derradeiro da série. Embora Larry David tenha anunciado em outras ocasiões que iria terminar com o programa, e não terminou, desta vez a ameaça parece séria. Sem exageros, isso significará o fim de uma era de comédia na TV.

Assim como aconteceu no episódio final de "Seinfeld" (1989-1998), um julgamento no qual Jerry, George, Elaine e Kramer foram expostos ao júri como pessoas terrivelmente egoístas por tudo o que fizeram em nove temporadas, o capítulo de conclusão de "Curb" deve apresentar um julgamento sobre o caráter peculiar de Larry.

Em "Seinfeld", o quarteto viola, sem saber, uma obscura lei de uma pequena cidade de Massachusetts, chamada de Lei do Bom Samaritano. Em "Curb", da mesma forma, Larry David é detido e processado por ignorar uma lei eleitoral de Atlanta ao oferecer uma garrafa de água a uma senhora que está na fila para votar.

Cena da série Seinfeld - Divulgação

Cocriador de "Seinfeld", principal redator e produtor executivo do programa até a sétima temporada, Larry voltou à sitcom para escrever o episódio derradeiro, exibido em maio de 1998. No ano seguinte, a HBO exibiu um especial que mostra o comediante tentando convencer o canal a produzir um programa dele. No ano 2000, finalmente, estreou "Curb Your Entusiasm", já com as principais características que o tornariam tão inovador e celebrado.

Na série, que em português significa "contenha o seu entusiasmo" e foi traduzida como "Segura a Onda", Larry interpreta uma versão de si mesmo. É um comediante de origem judaica, rico, heterossexual, que joga golfe com os amigos num clube exclusivo de Los Angeles.

Diferentemente da prática normal, as falas de "Curb Your Entusiasm" são improvisadas pelos atores. O roteiro prevê detalhadamente as situações que irão acontecer, mas os diálogos são desenvolvidos durante a gravação. Com seu empresário Jeff Greene (Jeff Garlin) como principal testemunha, ou cúmplice, e, desde a sexta temporada, Leon Black (vivido por J.B. Smoove) como hóspede de sua mansão, Larry dedica-se à arte de provocar dissensão, chocar e ofender.

Sempre na contramão do politicamente correto, suas observações sobre minúcias do cotidiano atingem indiscriminadamente mulheres, crianças, gays, negros, judeus, pessoas com deficiência, funcionários humildes etc. Privilegiado e sonso, mas raramente injusto, Larry observa com espanto as transformações, para pior, que enxerga em seu mundo.

Na definição de um de seus amigos, Larry é um "assassino social". O termo aparece num dos melhores episódios da série, "Frango palestino" (oitava temporada), no qual ele arruína um jantar ao dizer o que todos estão pensando, mas não têm coragem de falar publicamente. Em sua defesa, ele diz, na 11ª temporada: "Eu odeio as pessoas, individualmente, mas amo a humanidade".

Na temporada passada, exibida em 2021, Larry e Jeff fazem um tour por diferentes produtoras, inclusive a Netflix e a HBO, na tentativa de vender a ideia de uma nova série. Sem nenhuma sutileza, ele mostra como todas usam os mesmos critérios de ordem identitária para aprovar projetos.

É surpreendente que Larry David tenha conseguido sobreviver, até hoje, ao cancelamento. Talvez seja uma consequência do seu humor sempre autodepreciativo. E também do fato de se posicionar, de um modo geral, como um solitário que inspira fragilidade e, eventualmente, alguma consideração.

Como disse Jeff Schaffer, produtor executivo da série, à revista "Vanity Fair": "Ninguém quer que ele se aposente. As pessoas precisam de Larry, embora o sentimento não seja mútuo". Aos 76 anos, o comediante ainda tem muito o que cutucar.

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