Mauricio Stycer

Jornalista e crítico de TV, autor de "Topa Tudo por Dinheiro". É mestre em sociologia pela USP.

Salvar artigos

Recurso exclusivo para assinantes

assine ou faça login

Mauricio Stycer

Por que uma série tão ruim como 'Suits' faz tanto sucesso?

Tenho a clara sensação de estar desperdiçando meu tempo

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Um levantamento do instituto de pesquisas Nielsen apontou que "Suits" foi a série mais vista em plataformas de streaming nos Estados Unidos em 2023. Exibido originalmente na TV, entre 2011 e 2019, o drama foi descoberto por uma nova geração de espectadores ao chegar à Netflix em junho passado.

Para quem não está associando o nome à pessoa, "Suits" é célebre, entre outros motivos, por ter revelado a atriz Meghan Markle, hoje casada com o príncipe Harry, da família real britânica.

Em foto legenda, casal aparece em uma cama
Meghan Markle na série 'Suits', exibida de 2011 a 2018 - Reprodução

Somada a audiência que registrou na Netlfix e em uma outra plataforma, a reprise de "Suits" foi vista ao longo de 57,7 bilhões de minutos em 2023. "Ted Lasso", a série original mais vista no ano passado, acumulou 16,9 bilhões de minutos vistos. É uma comparação injusta: uma tem 134 episódios de 50 minutos à disposição do assinante; a outra produção, da Apple TV +, apenas 34 capítulos de meia hora.

Não por acaso, o top dez de mais vistos de 2023 inclui apenas séries antigas, como "NCIS", "Grey’s Anatomy", "Friends", "Gilmore Girls", "Big Bang Theory" e as infantis "Bluey" e "Cocomelon".

Esse não é um fenômeno novo. Até começar a produzir as próprias séries, a partir de 2013, a Netflix montou o seu catálogo licenciando os direitos de inúmeros títulos antigos de outros canais. "Breaking Bad", até então uma série cultuada por poucos no canal AMC, se tornou um fenômeno global ao chegar à plataforma.

Quando se deram conta do tesouro que estavam cedendo à Netflix, grandes empresas diminuíram o ritmo de licenciamentos e desenvolveram as suas próprias plataformas. Ainda assim, a líder de mercado continua investindo em sucessos antigos —sete das dez séries mais vistas em 2023 estão no seu catálogo, ainda que, em alguns casos, sem exclusividade.

Eu nunca tinha visto nenhum episódio de "Suits" até tomar conhecimento dessa pesquisa. Como sou pago para isso —você não precisa ver—, passei as últimas duas semanas assistindo em ritmo de maratona e posso assegurar que é uma das piores séries a que já assisti. Mas não consigo parar. Como diz uma amiga: "Credo! Que delícia!".

No formato que os americanos chamam de "procedural", a série conta, a cada episódio, uma história com início, meio e fim. De um modo geral, não é necessário ver um episódio para compreender o próximo. Quando isso ocorre, há um resumo na abertura.

É ambientada num escritório de advocacia em área chique de Nova York, com seis protagonistas. Todos os advogados de "Suits" —ternos, em inglês— são frios, sacanas e tentam enganar os colegas do próprio escritório. São impiedosos nas negociações de acordos com os colegas rivais, humilham promotores e pressionam juízes. Em todo episódio alguém tem um lampejo genial que leva a uma solução favorável aos interesses do cliente.

Todas as lindas mulheres do escritório, da secretária à principal sócia, usam vestidos justíssimos e sempre desfilam por longos corredores. Os homens mostram seu tamanho vestindo ternos bem cortados, de milhares de dólares —por isso o título da série.

Um ator é pior que o outro. Com closes fechados no rosto, como numa novela, mas incapazes de expressar mais do que dois sentimentos diferentes, os atores dão show de canastrice. Os roteiristas parecem se divertir com a criação de tramas mirabolantes, em parte incompreensíveis, mas que sempre terminam bem.

Esse conjunto, aparentemente, torna "Suits" irresistível e atraente para as novas gerações. Mas não só. Estou nessa também, com a clara sensação de estar desperdiçando meu tempo. Para piorar, Aaron Korsh, o criador da série, recebeu a encomenda de produzir uma variação da série, ambientada em Los Angeles. Um desastre.

LINK PRESENTE: Gostou deste texto? Assinante pode liberar cinco acessos gratuitos de qualquer link por dia. Basta clicar no F azul abaixo.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.