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Jornalista e crítico de TV, autor de "Topa Tudo por Dinheiro". É mestre em sociologia pela USP.

'A Mulher no Lago' se destaca na boa safra de séries do Apple TV+

Série com Natalie Portman mostra vida de duas mulheres em Baltimore nos anos 1960

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Há cada vez menos opções na televisão para o adulto interessado em dramas de qualidade, com pano de fundo realista, personagens bem construídos, diálogos que não tratam o público como bebê e nenhum dragão cuspindo fogo.

A HBO, que por muito tempo supriu esse nicho, perdeu o passo desde que foi incorporada ao conglomerado Warner Bros. Discovery, em 2022. A liberdade criativa, que por muito tempo foi o motor que moveu os projetos do canal, ficou para trás. Ainda há espaço para séries de qualidade, mas a sua programação, na média, está nitidamente menos ousada.

Uma plataforma que vem tentando, ainda que de forma errática, preencher esse espaço é o Apple TV+. Uma das melhores surpresas deste ano foi "The New Look", uma ficção centrada nas trajetórias dos estilistas Cristian Dior e Coco Chanel, mostrando como a indústria da moda francesa sobreviveu e, em alguns casos, sucumbiu ao nazismo.

"Sugar", um mistério policial que homenageia os filmes noir, protagonizado por Colin Farrell e, em parte, dirigido por Fernando Meirelles, foi outro acerto da plataforma, apesar de um plot twist na reta final que me provocou muita irritação.

Recomendo ainda a minissérie "Acima de Qualquer Suspeita", um drama de tribunal altamente viciante, com Jake Gyllenhaal no papel do promotor acusado de matar uma colega de trabalho que era sua amante. Harrison Ford viveu esse personagem num filme com o mesmo título, de 1990.

Jake Gyllenhaal e Bill Camp em 'Acima de Qualquer Suspeita' - Divulgação Apple TV+

Mas a joia da coroa do Apple neste ano é "A Mulher no Lago", cujo episódio final, o sétimo, acaba de ser lançado. A série se passa em Baltimore, nos anos 1960, num período em que a legislação ainda assegurava a segregação racial.

A trama é baseada num livro de Laura Lippman, autora de duas dezenas de romances policiais, alguns publicados no Brasil pela editora Record.

Criada pela israelense Alma Har’el, a série gira em torno de duas mulheres fortes e complexas, Maddie Schwartz, vivida por Natalie Portman, e Cleo Johnson, papel de Moses Ingram.

Maddie está em busca de independência após se separar do marido autoritário e deixar o ambiente familiar judaico que a oprime. Cleo cria dois filhos sozinha, trabalha como contadora de um mafioso, faz bico como garçonete e como modelo em vitrines, além de sonhar com mudanças na comunidade negra da cidade.

Segundo Lippman, a história de "A Mulher no Lago" foi inspirada em suas lembranças de infância de dois casos policiais que abalaram Baltimore naquele período: o desaparecimento de uma menina judia de 11 anos e a morte de uma mulher negra de 32. Enquanto o primeiro crime foi altamente divulgado na mídia, incluindo a televisão, o segundo caso mereceu cobertura apenas de jornais dedicados à comunidade negra.

É nessa cidade cindida pelo racismo e pelas diferenças sociais que Maddie decide resgatar a sua carreira de jornalista. Surge, então, um problema que ela não vislumbrava: o machismo desavergonhado dos profissionais do The Baltimore Sun. Sempre que entra na apertada Redação do jornal, um colega de trabalho dá um tapa em sua bunda.

Autocentrada, muitas vezes egoísta, Maddie age de forma compreensível, mas é uma personagem difícil de ser querida. Já Cleo, na sua luta pela sobrevivência nesse ambiente duplamente hostil para uma mulher negra, é uma figura fascinante e magnética. Natalie Portman e Moses Ingram estão muito bem na série.

A título de curiosidade, registro que Laura Lippman foi repórter de destaque no The Baltimore Sun e foi casada com David Simon, que também trabalhou no mesmo jornal e é o criador da série "The Wire".

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