Mauricio Stycer

Jornalista e crítico de TV, autor de "Topa Tudo por Dinheiro". É mestre em sociologia pela USP.

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Roteiristas, uni-vos

Sem poder de decisão sobre os créditos de filmes e séries, autores articulam a criação de um sindicato da categoria

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Figuras essenciais no processo que leva à realização de filmes e séries, os roteiristas brasileiros vivem, não é de hoje, uma situação de insegurança e instabilidade gritantes. Um dos problemas mais graves e recorrentes é a falta de critério na definição dos créditos que recebem pelo trabalho feito.

Protesto durante a greve que paralisou roteiristas e diretores de Hollywood no ano passado - Robyn Beck/AFP/AFP

Tema de conversas informais nos grupos de WhatsApp da categoria, a insatisfação generalizada se tornou pública há poucas semanas, durante a entrega do sétimo Prêmio Abra de Roteiro. Trata-se de uma premiação anual, promovida pela Associação Brasileira de Autores Roteiristas, na qual os seus 1.150 associados escolhem os melhores trabalhos em duas dezenas de categorias.

Ao receber o prêmio de melhor roteiro de obra infantojuvenil, por "A Magia de Aruna", Rodrigo de Vasconcellos, lamentou: "Tivemos uma surpresa desagradável de não recebermos créditos nos episódios que escrevemos.

Houve omissão e diluição dos créditos". E pediu: "Vale pensarmos, enquanto classe, em mecanismos de regulação e conferência de creditação, que façam com que os ‘players’ respeitem a participação e a autoria de cada colaborador e roteirista".

Para entender melhor a reclamação, conversei nos últimos dias com seis roteiristas e li ou ouvi depoimentos de outros tantos. Para ganhar o crédito de roteirista, a Abra considera que o autor deve ter escrito no mínimo 30% do roteiro. Uma forma de "diluição" da autoria ocorre pela inclusão de nomes de pessoas que, às vezes, deram um palpite no roteiro, mas não o escreveram.

Mais de um roteirista me disse que já viu a inclusão, entre os nomes de autores de um filme ou série que escreveu, de pessoas que desconhecia. Também há muitos casos de diretores, produtores e atores que exigem a inclusão de seus nomes no time de roteiristas.

Resignado com a diluição dos créditos de um filme bemsucedido que escreveu, um conhecido autor fez piada: "Até o papagaio do cachorro do diretor foi creditado como roteirista". Com medo de represálias, ele pediu que eu não citasse o título do filme em questão.

O rebaixamento da profissão se expressa também na exclusão dos roteiristas de eventos relacionados à promoção de filmes e séries. Ao receber o prêmio de melhor roteiro adaptado por "O Sequestro do voo 375", Mikael de Albuquerque fez um desabafo emocionado.

"Eu sei o que é, no Brasil, ter o nosso nome escrito errado ou esquecido nos créditos. Eu sei o que é não ser convidado para a pré-estreia de uma obra que a gente escreveu. E eu sei o que é não ser chamado para participar da foto da equipe principal estando num set de filmagem", disse.

Contratos com cláusulas leoninas, que deixam o roteirista sem autoridade sobre como e onde o seu nome vai aparecer nos créditos, geram insegurança. Newton Cannito, que escreveu a primeira versão do roteiro do filme sobre o sequestro de Silvio Santos, viu seu crédito mudar de "roteirista" para "tratamento estrutural de roteiro" após a contratação de um segundo autor, Anderson Almeida. Posteriormente, voltou a ser creditado como roteirista. O filme tem estreia prevista para setembro.

André Mielnik, presidente da Abra, considera que a chamada "arbitragem do crédito", hoje nas mãos dos produtores, deveria ser uma atribuição dos roteiristas. "A Abra já fez um manual orientando a indústria, mas na ausência de compliance por parte do mercado este é mais um motivo que nos leva para o caminho da sindicalização", diz.

Hoje, os roteiristas são representados por diferentes sindicatos de trabalhadores da indústria audiovisual. Mas Mielnik considera que o momento político é favorável à criação de um sindicato dedicado exclusivamente à categoria, como existem em muitos países.

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