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Militares inventam guerra da Albânia contra Gilmar para desviar foco, dizem advogados

Grupo Prerrogativas compara ataque ao ministro do STF a filme em que Robert de Niro e Dustin Hoffman tentam salvar imagem de presidente dos EUA

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O grupo de advogados Prerrogativas afirma que o ataque ao ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal (STF), é uma tentativa de "desviar o real foco: o massacre de dezenas de vidas proporcionado por ausência de políticas públicas, pela delegação das nobres funções do Ministério da Saúde a militares sem expertise pela negação científica da própria pandemia".

Em nota divulgada nesta terça (14), o Prerrogativas compara a hostilidade a Gilmar ao enredo do filme "Wag the Dog" ["Mera Coincidência", no Brasil], estrelado por Robert de Niro e Dustin Hoffman.

Na película, dois homens são chamados para resolver uma crise do presidente dos Estados Unidos --que havia sido filmado em uma atitude inapropriada com uma menor de idade. "Os dois personagens, especialistas em 'limpeza', têm a seguinte ideia: inventar uma guerra contra a Albânia", diz a nota. "E então fazem uma superprodução. E o povo acredita."

"No Brasil, o governo, integrado por um expressivo número de militares, e em maus lençóis por causa da péssima gestão da crise da Covid-19, em que sequer Ministro da Saúde existe, inventou uma 'guerra contra a Albânia', para com isso desviar a atenção do fracasso e da triste marca de mais de 72 mil mortos até o presente momento", diz o grupo de advogados.

No fim de semana, Gilmar disse em um seminário virtual que o Exército, ao ocupar cargos técnicos no Ministério da Saúde em meio à pandemia do coronavírus, está se associando a um genocídio. A fala fez do magistrado alvo de ataques --o vice-presidente Hamilton Mourão cobrou nesta terça-feira um pedido de desculpas.

O ministrou divulgou nota afirmando que não atingiu a honra do Exército.

Segundo o grupo Prerrogativas, com a sua afirmação, Gilmar "botou o dedo na ferida do governo" ao dizer "que não era aceitável o vazio no comando do Ministério da Saúde e que, se o objetivo de manter um militar à frente da pasta era o de tirar o protagonismo do governo na crise, o exército estaria se associando a esse 'genocídio'".

"Por óbvio que o contexto da fala do ministro e dos demais participantes da webinar mostrava claramente que se tratava de uma hipérbole", segue a entidade.

Leia abaixo a íntegra da nota do grupo Prerrogativas:

"*NOTA PÚBLICA DO GRUPO PRERROGATIVAS EM DESAGRAVO E EM DEFESA DO MINISTRO GILMAR MENDES*

No filme Wag the Dog (no Brasil, Mera Coincidência) , dois personagens, interpretados por Robert de Niro e Dustin Hofman, são chamados para resolver uma crise no salão oval da Presidência dos Estados Unidos.
O Presidente havia sido filmado em atitude inapropriada com uma menor de idade.

Os dois personagens, especialistas em “limpeza”, têm a seguinte ideia: inventar uma guerra contra a Albânia. E então fazem uma superprodução. E o povo acredita.

No Brasil, o governo, integrado por um expressivo número de militares, e em maus lençóis por causa da péssima gestão da crise da COVID 19, em que sequer Ministro da Saúde existe, inventou uma 'guerra contra a Albânia', para com isso desviar a atenção do fracasso e da triste marca de mais de 72 mil mortos até o presente momento.

Quem botou o dedo na ferida do governo foi o Ministro do STF Gilmar Mendes, ao dizer, em webinar no último dia 11, que não era aceitável o vazio no comando do Ministério da Saúde e que, se o objetivo de manter um militar à frente da pasta era o de tirar o protagonismo do governo na crise, o exército estaria se associando a esse “genocídio”.

Semelhantes críticas já foram feitas por diversas autoridades. A palavra genocídio é uma clara hipérbole para mostrar o tamanho da crise e do descaso do governo para com dezenas de milhares de mortes, que logo chegarão à casa de uma centena de milhar. E como chamaremos a morte de mais de cem mil pessoas?

Por óbvio que o contexto da fala do Ministro e dos demais participantes da webinar mostrava claramente que se tratava de uma hipérbole, ou seja, quando mais de 70 mil pessoas são mortas deixando mais de 200 mil pessoas-familiares enlutadas, afora os efeitos econômicos da perda de arrimos, qualquer expressão se torna fraca e incapaz de demonstrar o tamanho da tragédia. Óbvio isso.

Enquanto o ex-ministro do governo, Mandetta, dizia que o ministério da saúde tinha acabado, entre outros adjetivos, as Forças Armadas decidiram atacar os mensageiros. Mais, decidiram brigar com os fatos e, para tanto, inventaram uma guerra com a Albânia, atacando o Ministro Gilmar, para, assim, insistimos, desviar o real foco: o massacre de dezenas de vidas proporcionado por ausência de políticas públicas, pela delegação das nobres funções do Ministério da Saúde a militares sem expertise e pela negação científica da própria pandemia.

A trajetória do ministro Gilmar é conhecida de todos. Sempre respeitou as instituições. Como Presidente do STF, implementou o maior programa de ressocialização de presos e denunciou os perigos de um estado policial.

Como ele mesmo afirmou em nota, 'além do espírito de solidariedade, devemos nos cercar de um juízo crítico sobre o papel atribuído às instituições no enfrentamento da maior crise sanitária e social de nosso tempo'.
Portanto, é hora de os brasileiros e as autoridades juntarem esforços para combater a crise sanitária e a crise econômica e não para vitaminar falsas polêmicas por meio da artificial construção de crises políticas, desviando os olhares da sociedade.

Seguimos. Os desafios são grandes."

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