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Multiempreendedora e fundadora do Natalia Beauty Group

Por trás do batom: a luta implacável das mulheres para serem respeitadas

Desde muito cedo, nós aprendemos a ter medo e a medir nossas roupas e ações para evitar situações de risco

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Ainda me lembro das vezes em que, em casa, minha mãe me dizia para ser cuidadosa, para não provocar olhares indesejados ou, como ela mesma dizia, "não dar motivo". Essa realidade, tão comum e enraizada em muitas famílias, não era uma exceção, mas sim um reflexo de uma cultura que coloca sobre nós, mulheres, a responsabilidade de nos proteger da violência, em vez de cobrar que os homens nos respeitem. Desde muito cedo, nós, mulheres, aprendemos a ter medo, a medir nossas roupas, comportamento, e ações para evitar qualquer situação de risco.

Aos poucos, conforme fui crescendo e trilhando meu caminho como empreendedora, percebi que o machismo que minha mãe combatia dentro de casa era apenas a ponta do iceberg. No mundo dos negócios, esse sentimento de inferioridade e descrédito se torna ainda mais latente. O olhar de descrença quando uma mulher assume o comando de uma empresa, os comentários velados sobre nossa "fragilidade" ou "emoções descontroladas" são formas sutis de violência que impactam diretamente nossa autoestima e nosso desempenho.

Minha mãe me dizia para ser cuidadosa, para não provocar olhares indesejados ou, como ela mesma dizia, 'não dar motivo' - Adobe Stock

Como empresária, vejo isso em diversas mulheres que cruzam meu caminho. Elas são fortes, competentes, mas, por trás do sorriso e da determinação, carregam cicatrizes de abusos psicológicos, morais e até mesmo físicos. Para muitas, a violência começa com pequenas ofensas, avança para o controle do parceiro sobre suas finanças e, por fim, se materializa em agressões que deixam marcas invisíveis, mas profundamente dolorosas. E isso não é restrito apenas ao ambiente doméstico. No ambiente de trabalho, o desrespeito também está presente, seja nas piadas sexistas, nos olhares invasivos ou nas barreiras impostas ao nosso crescimento profissional.

É preciso entender que a violência contra a mulher vai muito além da agressão física. Violência é impedir que uma mulher tenha autonomia sobre seu corpo e suas escolhas, é diminuí-la com palavras, restringir sua liberdade de ir e vir, humilhá-la publicamente ou privadamente. São atitudes que corroem a dignidade, silenciosamente, mas que deixam marcas profundas.

A Lei Maria da Penha foi um avanço imenso no combate à violência, mas ainda estamos longe de um cenário ideal. Em pleno século 21, o abuso psicológico, patrimonial e moral continua sendo uma realidade constante para milhares de mulheres. É inadmissível que em um mundo onde lutamos por igualdade, homens ainda acreditem que têm poder sobre nós a ponto de abusar, controlar e ferir.

Na minha trajetória, vi mulheres desistirem de seus sonhos porque a sociedade e, muitas vezes, seus próprios lares, as fizeram acreditar que não eram boas o suficiente. Vi outras tantas batalharem contra o preconceito, vencendo barreiras impostas pelo machismo estrutural, mas sempre pagando um preço emocional altíssimo por isso. Essas formas de violência, tão enraizadas na nossa cultura, precisam ser extintas com urgência.

Chegou a hora de darmos um basta definitivo. Não podemos mais aceitar que essas práticas sejam normalizadas, que sejam tratadas como "brincadeiras" ou "cultura". As leis precisam ser cada vez mais severas, os agressores devem ser punidos de forma exemplar, e as vítimas, acolhidas e protegidas. Só assim, com um sistema jurídico rigoroso e uma mudança cultural profunda, poderemos finalmente garantir que as futuras gerações cresçam livres desse fardo que carregamos há séculos.

Como mulher, mãe e empreendedora, sei que esse caminho não é fácil, mas acredito que juntas, nós temos a força para transformar essa realidade. Não podemos mais viver com medo. Precisamos educar, conscientizar e exigir respeito. A mudança começa em casa, no trabalho, na rua, e, principalmente, na forma como escolhemos não nos calar diante de qualquer forma de violência. Para que um dia possamos, enfim, viver em um mundo onde ser mulher não seja sinônimo de luta constante pela própria segurança e dignidade.

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