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Professor da FGV e da UnB, ex-ministro da Fazenda e do Planejamento (2015-2016). É doutor em economia pela New School for Social Research.

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Cenário de inflação e juro

Copom parece querer encerrar o aperto monetário até agosto, mas depende dos choques econômicos

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No início de fevereiro, antes da invasão da Ucrânia, quando a expectativa média do mercado era que o aumento de juro pararia com Selic abaixo de 12%, escrevi neste espaço: "torço para que a Selic pare mesmo entre 11% e 12%, como acha o mercado, mas temo que o combo Otan-Rússia-Bolsonaro elevará nosso juro básico para algo entre 12% e 13% até maio."

Infelizmente meu temor se confirmou. Nesta quarta (4), o Copom (Comitê de Política Monetária) elevou a Selic para 12,75% e disse que vem mais, que haverá novo aumento, provavelmente para 13,25% em junho. Chegou a hora de atualizar minha bola de cristal.

Começando pelo calendário, restam cinco reuniões do Copom neste ano: junho, agosto, setembro, outubro e novembro. Serão três decisões sobre juro antes da eleição, uma entre o primeiro e segundo turno, e a última em dezembro.

Sede do Banco Central, em Brasília - Ueslei Marcelino - 22.set.2011/Reuters

Combinando o calendário econômico e político, o Copom parece querer encerrar o ciclo de aperto monetário até agosto, para atravessar o período mais intenso da campanha eleitoral sem criar fatos negativos para o governo. Será que ele conseguirá? Depende dos choques econômicos nos próximos meses e da magnitude da elevação de juro em junho e agosto.

Começando pelos choques, acho que podemos ser menos pessimistas sobre a inflação brasileira por quatro motivos.

Primeiro, a maior parte do choque no preço do petróleo já aconteceu. Se não houver escalada militar na Ucrânia (sei que esse em um "se" significativo), as cotações de petróleo tendem a se estabilizar ou até cair um pouco, diminuindo a inflação mundial.

Em segundo lugar, o Fed (banco central dos EUA) finalmente reagiu ao aumento da inflação e deve elevar o juro substancialmente (para padrões internacionais) até o final do ano. Por enquanto o Fed diz que Selic deles (Fed Funds) subirá para algo entre 2,5% e 3%, mas acho que será mais. Como a inflação de lá está em mais de 8% ao ano, sem sinal de queda rápida e economia ainda muito aquecida, provavelmente a Fed Funds subirá para mais de 3% ainda neste ano, o que geralmente puxa a inflação de commodities para baixo.

Terceiro, olhando para dentro, espero que os preços de alguns alimentos in natura comecem a desacelerar no meio do ano, puxando nossa inflação para baixo. Sei que isso não aconteceu em 2021, mas 2021 foi ponto fora da curva devido aos gargalos produtivos pós-Covid. A reversão à média demora, mas acontece.

Por fim, também do lado doméstico, o keynesianismo eleitoral de Bolsonaro tem fôlego curto. Nossa economia continua estagnada, com crescimento zero do PIB per capita, desemprego alto e salário real baixo. A previsão do mercado é de desaceleração da economia brasileira no segundo semestre, o que por sua vez segura a inflação.

Em contraposição aos quatro fatores acima, há dois grandes riscos para a queda da inflação brasileira em 2022. Do lado externo, o conflito pode se acirrar ainda mais na Ucrânia, e guerra é sempre inflacionária. Do lado interno, Bolsonaro já disse que não aceita perder a eleição e, caso isso aconteça, a crise política na transição de governo tende a elevar a taxa de câmbio, o que é tradicionalmente inflacionário no Brasil.

Espero que a crise na Ucrânia não piore e que, caso derrotado, Bolsonaro aceite o resultado sem criar muita confusão. Neste cenário a Selic subirá para 13,25% em junho, como o Copom já telegrafou, e aumentará mais um pouco em agosto, para 13,50% ou 13,75%. A partir de então a Selic tende a ficar estável até dezembro, quando saberemos o resultado das ações do BC e dos votos da população.

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