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​Empreendedor, criador da N Ideias​.

A rede social que pode salvar o capitalismo

Nada substitui a ação de um Estado em forma

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Sempre me considerei um capitalista convicto, um liberal na economia. Mas sou um capitalista em crise. Ele está datado, ultrapassado pelo próprio capitalismo.

Acreditamos no Estado pequeno, que a atividade econômica deve ser guiada pelo dinamismo dos mercados, que as empresas podem fazer melhor do que o governo. Só que, quando o bicho pega, aí é o Estado que tem que prover, financiar, botar trilhões na economia. Isso é uma contradição, e a vida está cheia delas.

O capitalismo, com todas as suas falhas, é o sistema que construiu as nações mais prósperas e menos injustas do mundo, as sociedades mais livres. Mas é visível que ele precisa de um reset. O bom é que ele pode fazer isso. Plataforma aberta, a economia de mercado sempre mostrou grande capacidade de se transformar e evoluir.

Investidores na Bolsa de Valores de Nova York - Johannes Eisele - 26.dez.2019/AFP

O Grande Reset, aliás, foi o tema do Fórum Econômico Mundial de Davos (mais capitalista, impossível). Sim, o Fórum de Davos defende a transição do “capitalismo de shareholder”, focado nos acionistas e nos resultados de curto prazo das empresas, para o “capitalismo de stakeholder”, o capitalismo que busca beneficiar, em prazo longo, todas as partes envolvidas na atividade empresarial: de investidores a funcionários, de clientes a fornecedores, da comunidade ao planeta.

No mundo e no Brasil, empresários, CEOs e investidores se unem em torno dessa pauta também. E eles não são socialistas. Mas estão sentindo que chegou o momento de mudar o capitalismo para seguirmos avançando. Quando algumas dezenas de famílias têm o mesmo dinheiro que o resto da humanidade, algo está errado. Como diz Caetano: alguma coisa está fora da ordem.

Eu não tenho repertório para desenhar a solução, mas a pandemia, a desigualdade, as mudanças climáticas, as redes sociais pestilentas são sintomas daquilo que a economista italiana Mariana Mazzucato (admirada pelo “socialista” Bill Gates) está dizendo que precisa mudar. Mazzucato acha que a crise surgida da pandemia pode ser a alavanca dessa mudança, capaz de abrir caminho para um Estado mais eficiente, mas mais forte, que possa ser condutor de políticas de crescimento inclusivas e sustentáveis, uma força empreendedora. Sou brasileiro e vejo com tristeza como o Estado tende a ser custoso e ineficaz. Mas o que seria de nós sem o SUS?

Mazzucato está dizendo que eu não tenho conhecimento para articular. Eu não sou um pensador. Eu sou um sentidor. Como aquele pessoal que não entende inglês, mas sente e entende a música que está ouvindo. Se você me perguntar para onde devemos ir, eu não sei. Mas sei para onde não devemos ir. O capitalismo pleno não é possível sem a democracia. Que o diga o Barão de Mauá. E um cara como o Marcel Herman Telles é um grande homem público por ter gerado tanta riqueza, empregos e transformação com os conglomerados que criou e com os talentos que fez florescer.

As startups contestam o status quo como as passeatas de 1968, mas trazem como efeito colateral de sua revolução 4.0 a desigualdade, a destruição em massa de empregos, o surgimento de um Quarto Mundo pior que o Terceiro Mundo: não é o subdesenvolvimento, é o não desenvolvimento e a irrelevância.

Aí meu coração escuta Martin Wolf, o principal analista do muito capitalista “Financial Times”: nada substitui a ação de um Estado em forma.

O mundo não é um mercado. Temos que mudar o capitalismo. Ele achava que estava voando. Não: ele tinha se jogado do alto da torre, e a única maneira de salvá-lo é a rede social do Estado em forma.

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