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Paulo Vieira, do Jornalistas que Correm, fala tudo sobre corrida –mesmo aquilo que você não deveria saber

O corre na quebrada

Segurar o pace para não tomar esculacho da polícia é rotina na periferia, de que políticos se dizem crias

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A periferia está em alta.

Na eleição para prefeito de São Paulo, os candidatos estão numa briga particular para mostrar que têm origem ou ao menos conhecem o território.

O atual incumbente, Ricardo Nunes (MDB), abusa do bordão "cria da periferia" e o seu programa de rádio do horário eleitoral, chamado "Rádio da Periferia", tocou nesta terça (3) uma espécie de rap listando bairros da ZL.

Tabata Amaral (PSB) expõe sua biografia de filha de migrantes nordestinos crescida na Vila Missionária, na divisa de Diadema, alguém que, contrariando amplamente a estatística, como diriam os Racionais, conseguiu estudar em Harvard, nos Estados Unidos, e virar deputada federal.

Tabata, que é adepta da corrida de rua e que no Rio, em junho, completou uma prova de meia maratona, não deve ter tentado, em sua adolescência, correr pelas ruas do bairro. O parque mais próximo da sua "goma", o Sete Campos, só foi inaugurado em 2010 (by Gilberto Kassab prefeito).

O parque Sete Campos, na zona sul de São Paulo - Divulgação

E o mais comezinho treino de uma mulher, especialmente quando sozinha, pode ser, infelizmente, uma aventura pela sobrevivência.

De maneira análoga, para os homens periféricos a aproximação de uma viatura policial pode significar a necessidade de abortar completamente a corrida.

A grande desgraça é que isso parece jamais mudar. A fita vale para hoje e anteontem. Que o diga o colega de coluna Veny Santos, também corredor e grande escritor.

"Analisando o território, como passava por uma longa avenida, considerou estratégico ir pela pista de caminhada. ‘Se a viatura me parar, ao menos estou num espaço mais iluminado. E se algum maluco na função vier me roubar de moto, terá dificuldade para chegar até mim... De repente consigo correr’, pairavam tais ideias em ritmo cabuloso dentro da cabeça.

Paranoia, neurose. Precisava prestar atenção em tudo, interna e externamente —onde há luz, onde há sombra. Quando ser yin e quando ser yang."

Esse excerto da coluna de Veny publicada em 9 de julho não tinha o eu lírico a treinar, mas em rolé noturno na Leste, rolé a tempo ainda de pegar o ônibus. Ele, contudo, preferiu "voltar a pé para economizar".

Mas correr de dia ou voltar do pico à noite daria aqui na mesma.

Por ser uma atividade física integradora, barata e que pode –ou poderia– ser feita na quebrada, a corrida mudou a dinâmica de muita gente na periferia.

Em São Paulo é incontornável o exemplo da Neide Santos, de que já falei aqui, mas que merece ser lembrado uma, duas, dez, 1 milhão de vezes.

Cria de verdade do Capão Redondo, a baiana Neide sobreviveu à estatística, mas o ex-marido e um filho não. Os homicídios que os vitimaram não a paralisaram, pelo contrário: levaram-na a montar o projeto Vida Corrida, em 1999.

Ano após ano, o Vida Corrida capacita com corrida e outras atividades físicas, inglês e informática, crianças e adultos no parque Santo Dias, no Capão. Neste momento, são 200 crianças e 200 adultos dentro do projeto.

Ela mudou a vida de muita gente. Com a corrida, por exemplo, tirou do sedentarismo, da depressão e da televisão aberta uma pequena multidão de mulheres.

A César o que é de César: em recente conversa com este colunista, Neide disse que Ricardo Nunes foi conhecer, em julho passado, o Vida Corrida.

Sim, a três meses da eleição e tendo ele já passado oito anos como vereador e três anos e fumaça como prefeito de São Paulo.

Mesmo assim, foi o único prefeito a fazê-lo.

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