Vinicius Torres Freire

Jornalista, foi secretário de Redação da Folha. É mestre em administração pública pela Universidade Harvard (EUA).

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Vinicius Torres Freire
Descrição de chapéu PIB

Por que a economia tem crescido mais que o mercado prevê: uma visão do governo

Subestima-se efeito de certo gasto público, por exemplo, diz secretário da Fazenda

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Desde fins de 2020, as previsões de crescimento da economia têm subestimado a variação que viria a ocorrer de fato no PIB. A previsão era de alta de 0,36% do PIB em 2022; o crescimento foi de 3% (consideradas as previsões de economistas do setor privado, feitas na última semana do ano anterior e compiladas no Boletim Focus, do Banco Central). Para 2023, previsão de 0,8%, alta de 2,9%. Para este 2024, previsão de 1,5% —o PIB deve crescer mais de 2,5%.

Muito importante é saber se, ou em quanto, o erro de previsão está relacionado a erros de diagnóstico sobre o funcionamento da economia e do efeito de políticas econômicas ou sobre problemas e potencial produtivo do país. Por que o erro tem sido notável? Guilherme Mello, secretário de Política Econômica do ministério da Fazenda, tem o que ele mesmo chama, por ora, de "hipóteses".

A imagem mostra uma cena urbana na Rua Haddock Lobo, com várias pessoas caminhando na calçada. À esquerda, há carros parados e um semáforo verde. Um homem com uma mochila e uma criança de mãos dadas estão próximos a um carrinho de bebê. Outros pedestres estão visíveis, incluindo um homem de camiseta listrada e outro de camisa rosa. À direita, há uma loja com uma vitrine e plantas na entrada.
Pessoas transitando no comércio da rua Oscar Freire, no Jardins, em São Paulo - Rubens Cavallari - 22.dez.2022/Folhapress

Mello observa que o crescimento de 2018 e 2019 foi superestimado; de 2021 em diante, subestimado. Modelos comumente usados por economistas dariam ênfase excessiva a efeitos monetários (juros, por exemplo) e menor a efeitos fiscais (gasto). Por exemplo, uma contenção de gasto, como o "teto" em 2018 e 2019, levaria a baixas de taxas de juros que estimulariam o investimento privado e o crescimento —não aconteceu.

O efeito do gasto público seria mal medido e compreendido. Primeiro, porque o "multiplicador" da despesa estatal seria maior do que se imagina. "Multiplicador": o efeito em cascata, na atividade econômica, do gasto extra do governo (direto ou indireto). Segundo, porque gastos diversos têm multiplicadores diferentes. Aumentos de benefícios sociais para pobres, por exemplo, vão quase todos para o consumo (ricos poupam mais da renda extra); investimentos como o Minha Casa, Minha Vida, por exemplo, causariam efeitos diferentes e maiores na economia.

Além do mais, modelos superestimariam o efeito de juros ou não conseguem captar o fato de que, baixando a certos níveis, ainda que relativamente altos, as taxas tornariam viáveis certos investimentos. Demanda maior e confiança maior, "estados de espírito", contribuiriam também para tal efeito, o que modelos têm dificuldade de captar.

Em certo ponto, o ritmo do PIB e a redução da taxa de desemprego provocam inflação, com o que as taxas de juros tendem a subir. A estimativa dessas medidas nos modelos seria ora muito "dura". Isto é, o PIB potencial estimado seria baixo (até recentemente, era comum a estimativa de 1,5%); o desemprego "natural" seria alto (abaixo de 8% poderia ser inflacionário). Uma economia mais aquecida e com desemprego menor, pois, logo viria a ser travada por juros altos e/ou deterioração de expectativas.

Haveria subestimação do efeito de reformas na produtividade? Desde 2017 e ainda no governo Lula 3, tem havido muitas delas. É possível, diz Mello, mas vai levar tempo, pesquisa e mais dados para medir tal efeito. Mesmo o aumento da renda do agro e do petróleo podem provocar encadeamentos e mudanças produtivas de medição ainda difícil.

Esta conversa é bem mais comprida e complicada. Mello diz que a Fazenda procura refinar hipóteses e testes. Fatores do erro de previsão podem ser vários, diz o secretário. Por ora, com os dados mais à mão, gostaria de chamar a atenção para certa incompreensão do efeito do gasto público.

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