Marcelo Viana

Diretor-geral do Instituto de Matemática Pura e Aplicada, ganhador do Prêmio Louis D., do Institut de France.

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Algumas disputas científicas têm final feliz, outras não

Há 178 anos, houve certa celeuma sobre a descoberta do planeta Netuno

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Na história da ciência, não é incomum que dois pesquisadores se tenham debruçado, ao mesmo tempo, mas de forma independente, sobre um mesmo tema de pesquisa. Em alguns casos, o que seria saudável competição degenera em discórdia quanto ao crédito devido a cada um por suas descobertas. Mas nem sempre é assim.

A disputa entre o inglês Isaac Newton (1643–1727) e o alemão Gottfried Leibniz (1646–1716) pela primazia da descoberta do cálculo ficou famosa. Embora ambos tenham dado contribuições cruciais, que, por si sós, lhes garantem lugares de honra no panteão da ciência, uma série de fatores –incluindo a rivalidade entre suas nações– fez com que os dois se envolvessem numa controvérsia que envenenou os últimos anos de suas vidas.

E por recusar-se a usar os importantes trabalhos de Leibniz, a matemática inglesa entrou em um longo período de estagnação.

Pruridos nacionalistas também tiveram destaque na celeuma entre o francês Urbain Leverrier (1811–1877) e o inglês John Adams (1819–1892) a respeito da descoberta do planeta Netuno. Os dois passaram muitos meses calculando a posição do novo astro no céu a partir das perturbações observadas na órbita de Urano. Finalmente, o astrônomo alemão Johann Gottfried Galle (1812–1910) observou o novo astro na noite de 23 para 24 de setembro de 1846, exatamente onde Leverrier previra.

Netuno e a Terra - Science Photo Library

Enquanto os franceses comemoravam ("Leverrier encontrou um planeta na ponta de sua caneta!", proclamou o compatriota François Arago), do outro lado do Canal da Mancha só se ouviam queixas pela oportunidade perdida para a arquirrival França.

A principal vítima talvez tenha sido o astrônomo real Sir George Airy, acusado (injustamente) de falta de diligência na verificação dos cálculos de Adams. Felizmente, a querela não afetou a relação entre os dois matemáticos: Leverrier e Adams se encontraram anos depois, pela primeira vez, e conversaram animadamente sobre seus interesses comuns.

Aliás, em 1846, a Royal Society britânica concedeu a prestigiosa medalha Copley a Leverrier "por suas investigações das perturbações de Urano por meio das quais provou a existência e previu a localização de um novo planeta", sem mencionar Adams.

Adams ganhou a medalha dois anos depois "por suas investigações das perturbações de Urano e pela aplicação do problema inverso das perturbações a essa questão".

O físico alemão Albert Einstein (1879–1955) também vivenciou dois encontros dessa natureza, com os maiores matemáticos de sua geração: o compatriota David Hilbert (1862–1943) e o francês Henri Poincaré (1854–1912). Comentarei na semana que vem.

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