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Paixões, desencontros, estabilidade e loucuras segundo Anna Virginia Balloussier, Pedro Mairal, Milly Lacombe e Chico Felitti. Uma pausa nas notícias pra gente lembrar tudo aquilo que também interessa demais.

Descrição de chapéu Relacionamentos casamento

Marta e Alberto (e Erika)

O casamento aconteceu numa fazenda, numa tarde ensolarada de junho

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Milly Lacombe

Escritora e roteirista, colunista das revistas Trip/Tpm, cronista do UOL Esportes e autora do romance 'O Ano em Que Morri em Nova York' (ed. Planeta).

Marta e Alberto se conheceram no casamento da melhor amiga dela. Começaram a namorar logo depois e a decisão de morar junto não levou um ano. Alberto era diretor de fotografia e Marta era arquiteta. Ela sonhava com um casamento tradicional, seu príncipe esperando no altar, mas Alberto não podia nem pensar em casar nesses termos.

O debate não foi aprofundado porque Marta engravidou e tudo passou a girar em torno da gravidez.

Alberto não soube lidar com a chegada de uma filha e eles se distanciaram. Ele chegava do trabalho cada vez mais tarde, ela mergulhou numa solidão profunda. Foi com tristeza, mas não com surpresa, que soube que Alberto estava tendo um caso e tinha engravidado a amante.

Marta saiu de casa, mas Alberto, arrependido, foi buscá-la e prometeu que seria um outro homem dali em diante.

Marta disse que se sentia entre duas possibilidades estranhas, mas que a pior delas seria a de ele não assumir a paternidade do segundo filho. Ele respondeu "claro que vou assumir, não sou um monstro".

Para ele, assumir a paternidade era pagar uma pensão justa e ver a outra filha de dois em dois meses, quando muito. Marta não disse nada, até porque precisava que ele se manifestasse como pai presente e ativo para a filha deles, que nasceu chorando e chorou por seis meses seguidos.

O casamento nunca mais se aprumou e quando as crianças tinham dois anos ele deu um jeito de conseguir uma filmagem no Canadá que levaria dois meses.

Marta se viu sozinha com uma filha que, como todas, exigia demais dela.

Fazia menos de 15 dias que Alberto havia viajado quando Marta foi ao supermercado e viu a irmã de sua filha pegando maçãs. Olhou um pouco mais longe e enxergou Erika, a mãe da menina, caminhando em sua direção. Erika estava com os lábios quase azuis, pálida e suando demais. Marta percebeu que ela poderia desmaiar e a levou para o café do mercado. Deu a ela uma água de coco e as duas ficaram um tempo ali conversando.

Elas tinham se visto meia dúzia de vezes na vida e essa foi a primeira vez que dialogaram e descobriram todas as coisas tinham em comum. Tristezas, solidões, mágoas, frustrações e, mais do que tudo, uma exaustão que ia até os ossos. Enquanto conversavam, as irmãs brincavam e desenhavam na mesa ao lado. No final, Erika agradeceu a ajuda e convidou Marta para sua festa de aniversário, que seria na semana seguinte. Marta disse que iria, mas achou que estava apenas sendo educada.

Ficou surpresa com ela mesma de, no sábado da festa, ter pedido para a mãe ficar com a filha porque ela queria ir dançar. Foi o que fez. Dançou até o dia amanhecer com Erika e seus amigos. No final, ainda sob efeito de álcool, decidiu aceitar o convite de Erika e dormir ali mesmo. Avisou a mãe, que disse que ela não se preocupasse.

Marta e Erika começaram a namorar alguns dias depois.

O casamento aconteceu na fazenda de uma tia de Erika, perto de Penedo, num fim de tarde ensolarado de junho.

Corpo feminino com as cores do arco-íris em glitter - Alexander Grey/Unsplash

As duas entraram de mãos dadas pelo corredor de tulipas e juntas foram até o altar, onde uma amiga faria a cerimônia. À frente delas, as duas filhas carregavam as alianças e um buquê.

Não teve príncipe, mas teve Erika em toda a sua potência.

E, com ela, a promessa de um amor sincero.

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