Nosso estranho amor

Paixões, desencontros, estabilidade e loucuras segundo Anna Virginia Balloussier, Pedro Mairal, Milly Lacombe e Chico Felitti. Uma pausa nas notícias pra gente lembrar tudo aquilo que também interessa demais.

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Nosso estranho amor
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Um beijo, duas histórias

Um dia tive coragem de perguntar o que você achou do beijo: não foi bom não, você disse com sua sinceridade habitual

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Milly Lacombe

Faz exatamente cinco anos que um beijo mudou minha vida. Um beijo que, na nossa história, tem significados muito diferentes.

O primeiro beijo que você me deu, naquele bar em Botafogo, foi o melhor que já ganhei. Por um tanto de meses eu me referi assim a ele e por um tanto de meses vi sua expressão enigmática quando o assunto era revelado a amigos. Teve até um texto e uma playlist que eu fiz sobre aquele beijo.

Até que um dia tive coragem de perguntar o que você achou do beijo. Não foi bom não, você disse com sua sinceridade habitual.

Adotamos uma cachorra linda chamada Vera, e vê-la correr alucinada na praia foi um dos momentos mais alegres de um ano difícil - Reuters

Como um mesmo beijo pode ser bom para uma pessoa e ruim para outra? Não sei mesmo, mas o certo então seria começar essa história pelo segundo beijo.

Desde o segundo beijo nunca mais nos perdemos de vista. Inventamos uma relação à distância, bolamos regras para nosso casamento, estabelecemos limites e juramos sinceridade e lealdade.

Passamos relativamente bem por uma pandemia, uma menopausa, uma dúzia de brigas e alguns desencontros emocionais.

Adotamos uma cachorra linda chamada Vera, vimos muitos pores do sol e um nascer do sol. Vimos também uma infinidade de luas cheias e comemos centenas de panquecas nos cafés da manhã de domingos de folga.

Você aprendeu a lidar com meus silêncios, eu aprendi a entrar nas suas problematizações. Você coça minhas costas, eu te sirvo um pouco mais de vinho. Você diz "tá na mesa", eu acendo a lareira.

Tudo a seu respeito me fascina, da inteligência ao sorriso; da lucidez arrebatadora ao corpo perfeito, do rigor ético aos olhos que brilham um brilho de vida infinita.

Faz cinco anos que me encanto e seduzo por você; faz cinco anos que dizer "dorme bem, meu amor" orienta e organiza meus dias.

Você me disse ontem que nunca imaginou que chegaríamos até aqui, que era para ser só uma aventura. Eu fiquei em silêncio quando você disse isso, você sorriu ao constatar minha habitual incapacidade de articular palavras quando estamos falando da gente.

Então te digo agora o que deveria ter dito ontem: ainda estamos numa aventura, meu amor.

É, para mim, a melhor aventura em que me lancei. Navegar nas águas do seu oceano é a viagem mais linda que eu nem imaginava querer e a mais exuberante que a vida poderia me dar.

Tem dias de ondas altas, dias de calmaria. Tem dias de vento, dias de sol, dias nublados e algumas tempestades. Mas, acima de tudo, tem um porto seguro onde sei que posso me ancorar e me acalmar.

Em você, me despossuo de quem achei que era. Com você, aprendo a ser uma pessoa melhor e mais justa. Tento me erguer para alcançar o seu tamanho mas por mais que fique na ponta dos pés me parece uma impossibilidade filosófica me erguer à sua real grandeza.

Outro dia você quis ir à praia cedinho. Dar um mergulho, pisar na areia, ver como Vera reagiria à experiência. Éramos nós três andando perto do mar, e nós duas constatando o transe frenético da cachorra que se apaixonou pela areia à primeira pisada.

Ver Vera correr e pular alucinada foi um dos momentos mais alegres de um ano difícil.

Nós três andando perto da água, Vera pulando ondas e rolando na areia, numa manhã quente de céu limpo.

Se eu puder escolher um momento para o meu eterno retorno, esse seria ele. Nós três numa manhã perfeita de alegria plena.

Faz cinco anos que um beijo mudou minha vida.

Era para ser só uma aventura, você diz.

Apenas um beijo roubado num bar em Botafogo.

Mas agora tudo o que eu penso é que gostaria que essa aventura se estendesse até o fim da minha vida.

Eu te amo.

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