Quando Pietra Príncipe conheceu Guilherme Bifoni, em 2015, as posições eram assimétricas. Ela era uma estrela que passava pelos estúdios da Band para gravar uma entrevista. Ele era um produtor do programa "Agora É Tarde", apresentado por Rafinha Bastos. Ele tinha 24 anos. E ela tinha 34.
Pietra, que já tinha apresentado um programa no Multishow e sido capa da "Playboy", era uma das convidadas da noite. Enquanto esperava no camarim, ela pediu uma bebida ao produtor. Ele providenciou. Ela perguntou onde era o banheiro. Ele respondeu. Mas, como ela estava com um salto alto, pediu: "Me leva?". Ele levou. No caminho, ela pensou: "Esse garoto é bonito, só que é muito novo". Os dois trocaram telefones. "A gente conversou um dia. Só isso", ele diz. De vez em quando, ela mandava uma mensagem do tipo: "Tão bonito". "Nunca foi amizade. Era um flerte mesmo", ela diz. Um flerte que não se concretizou.
Até porque tinha uma serra das Araras entre os dois. Ele era de São Paulo e ela era do Rio. Três anos se passaram. Em 2018, Pietra estava num momento de guinada profissional. "Eu não queria mais fama, TV, falar de sexo de maneira idiota." Alugou seu apartamento no Rio e foi cuidar dos gatos de uma amiga paulistana que passava uns tempos fora. Lembrou do produtor de TV de anos antes e escreveu uma mensagem curta e objetiva: "Vem pra cá, vamos transar".
Ela sabia bem o que queria. E também o que não queria. "No date do Guilherme, eu tinha decidido que nunca mais eu ia fingir expressão corporal, botar um vestido. Não queria nenhum homem que me tratasse como um objeto de luxo." Ela o recebeu na rua com uma garrafa de saquê. Ele chegou com quatro latas de cerveja, o cabelo comprido frisado pela umidade do dia chuvoso. Ela perguntou: "Você veio como?". E ele respondeu: "De transporte." "Aí ele me conquistou", diz ela. "Ninguém precisava fingir ser outra pessoa. A gente estava vivendo naturalmente, se divertindo com coisas tontas e tendo conversas profundas que não eram chatas." Ela ficou dez dias em São Paulo, a maior parte do tempo com ele. E, então, partiu.
Mas não por muito tempo. No mês seguinte, ela o convidou para ir ao Rio, que ele não conhecia. Guilherme foi. Chorou quando viu a lagoa Rodrigo de Freitas pela primeira vez. Levou de presente duas pelúcias: um Snoopy, que simbolizava ele, e um passarinho Woodstock, que se parece com ela por ambos serem loiros e descabelados.
Guilherme ficou um mês no Rio. Se apaixonou por Ministro e Desembargador, os cachorros de Pietra. Os dois começaram a namorar. "Aí vivemos uns anos na ponte aérea", diz ele. Para ela corrigir: "Ponte aérea, não, amor. Ponte rodoviária." Os dois cruzavam de ônibus a via Dutra e se viam quando dava. "Era muito trabalho, não dava pra ter neura", diz ela. Ele foi gravar "De Férias com o Ex". "Sem esse ciúme, sem essa posse, sem querer despersonalizar o outro."
Enquanto ele seguia trabalhando na TV, Pietra bifurcou sua vida. Passou a pintar quadros e também a fazer fotos de si mesma para jogar na internet. Criou um perfil no OnlyFans, uma plataforma em que publica conteúdo erótico para um público que paga uma assinatura. E, em menos de um ano, já estava no 1% dos perfis mais bem-sucedidos da rede em todo o mundo.
Veio o coronavírus, e as produções de TV pararam, enquanto Pietra não parava de produzir. Guilherme se mudou para a casa em que ela já morava há 16 anos. "As pessoas se separaram durante a pandemia, enquanto a gente criava um mundo nosso", diz ela.
Guilherme começou a trabalhar na produção dos negócios de Pietra. Para ela, a parceria não poderia ser mais natural: "A gente lida com um trabalho doido, mas pra gente não é nada doido. Tem gente que já comentou: ‘Ah, o Guilherme está com você apesar do OnlyFans’, mas isso nunca passou na minha cabeça, imagina." Faz alguns meses que os dois, mais Desembargador e Ministro, se fixaram em Lisboa. Antes de ir, firmaram uma união estável, só para fins práticos. Pietra continua produzindo fotos e vídeos para os assinantes do seu canal. Guilherme estuda TI e trabalha num brunch, além de produzir os ensaios da mulher. "É a história de um amor calmo", define ela. "É uma confusão", define ele. E os dois riem.
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