Siga a folha

Julio Wiziack é editor do Painel S.A. e está na Folha desde 2007, cobrindo bastidores de economia e negócios. Foi repórter especial e venceu os prêmios Esso e Embratel, em 2012

Filantropia com título de capitalização esquenta debate sobre doação para ONGs

Associação de captadores pede mudança na destinação de recursos arrecadados

Continue lendo com acesso ilimitado.
Aproveite esta oferta especial:

Oferta Exclusiva

6 meses por R$ 1,90/mês

SOMENTE ESSA SEMANA

ASSINE A FOLHA

Cancele quando quiser

Notícias no momento em que acontecem, newsletters exclusivas e mais de 200 colunas e blogs.
Apoie o jornalismo profissional.

Rio de Janeiro

A ABCR (Associação Brasileira de Captadores de Recursos) está tentando mobilizar parlamentares para mudar a forma como as ONGs recebem doações por meio de títulos filantrópicos premiáveis.

Segundo a ABCR, o sistema atual absorve parte da verba destinada às entidades, e um ajuste no processo poderia elevar a quantidade de recursos.

A modalidade em questão tem quase a mesma premissa de um título de capitalização comum: determinado valor é aplicado e, ao final do prazo, são acrescentadas correções de prêmios e sorteios. A diferença é que uma parte da quantia final é destinada para entidades beneficentes.

Cédula de R$200,00 (duzentos reais) - Gabriel Cabral/Folhapress

O modelo atual segue regras especificadas em uma resolução de 2020, que estabelece três quotas: a de capitalização, que deve abranger a maior parte dos recursos e ser destinada à entidade beneficente, a de sorteio, que volta para o cliente pagador, e a quota de carregamento, cujo destino são impostos e lucros para a empresa de capitalização.

O modelo foi muito difundido no início da pandemia, com as lives de artistas que incentivavam a doação para organizações da sociedade civil, mas a ABCR fazia alertas aos doadores quando o recurso era enviado por meio da venda de títulos de capitalização na modalidade filantropia premiável.

O problema, segundo João Paulo Vergueiro, diretor-executivo da ABCR, é que o sistema desfavorece as ONGs, que precisam bancar a divulgação e promoção.

"A pessoa acha que está doando um real, mas na verdade está doando sessenta centavos", diz.

Em março, a Câmara aprovou um projeto de lei que reforça a tratativa. O objetivo da ABCR é que o presidente não faça a sanção, mas, caso isso se concretize, tentarão uma emenda, por meio de deputados.

Representantes de empresas de capitalização, por sua vez, defendem o modelo. Eles dizem que, sem a devolução por parte das entidades, a campanha é esvaziada e as doações, reduzidas.

"Precisa fazer divulgação maciça. Se o dinheiro doado fosse direcionado exclusivamente para ações sociais, não haveria essa arrecadação", diz Miguel Muccillo, diretor-presidente da MDM8, consultora de produtos de capitalização com foco em captação de recursos para entidades filantrópicas.

De acordo com Muccillo, a resolução e o PL não obrigam a entidade a reservar parte para a campanha, é uma escolha. Se não for seguida, no entanto, pode prejudicar as arrecadações.

Marcio Coutinho, vice-presidente da Fenacap, associação que representa as empresas de capitalização, critica o movimento para tentar mudar o projeto de lei.

​Segundo ele, as próprias entidades filantrópicas estão contentes com o modelo. "Eu já ouvi de dirigentes de entidades filantrópicas que hoje [o título filantrópico premiável] é a maior canalização de recursos da sociedade civil para as entidades."

Segundo a Fenacap, essa modalidade de capitalização cresceu 48,7% em 2021 e direcionou um volume recorde de recursos de mais de R$ 1,3 bilhão a ONGs.

Joana Cunha com Andressa Motter e Paulo Ricardo Martins

Receba notícias da Folha

Cadastre-se e escolha quais newsletters gostaria de receber

Ativar newsletters

Relacionadas