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Mostrando um outro lado da humanidade

Em vinte anos de trabalho voluntário na Fundação Casa, aprendi muito mais do que ensinei

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Alex Melo

Idealizador da ONG Meu Sonho Não Tem Fim, que possibilita que cada cidadão se torne um agente de transformação na sociedade

Há vinte anos realizei a primeira palestra "Vinha de Sonhos" em uma unidade da Fundação Casa. A iniciativa é um dos projetos da ONG Meu Sonho Não Tem Fim, trabalho voluntário criado em 1986, quando eu tinha quinze anos de idade.

Após a palestra, tive a impressão de que aqueles jovens questionavam a legitimidade de minha presença em seu espaço. No entanto, descobri que aquela impressão inicial é uma "casca de proteção", uma forma deles se protegerem frente a uma sociedade que insiste em discriminá-los e excluí-los.

Alex Melo é idealizador da ONG Meu Sonho Não Tem Fim e dissemina o bem sem pedir nada em troca - Zanone Fraissat/Folhapress

Deixei com a administração da unidade um exemplar do nosso primeiro livro de parábolas, intitulado "As Reflexões de Um Sonho que Não Tem Fim", composto de narrativas com forte apelo moral e mencionei que as histórias contadas durante o evento estavam no livro.

Naquele momento terminava meu primeiro contato com eles. Na semana seguinte recebi uma ligação de um dos responsáveis pela unidade dizendo como eu havia mexido com a cabeça dos internos.

Isso porque ao término da aula de música pediram que o professor lesse uma reflexão do livro do "Tio Alex" para que pudessem compreender como poderiam melhorar como seres humanos.

O impacto deste feedback foi profundo e novas ações junto a Fundação Casa foram idealizadas, despertando em mim o desejo de um novo livro, com um número maior de reflexões e possibilidades de questionamentos e ensinamentos.

E assim foi criado o livro "Um Sonho que Não Tem Fim", que se tornou uma importante ferramenta da organização. Uma nova palestra foi agendada e fiz questão de entregar-lhes o primeiro exemplar desta nova publicação. Estas palestras geraram outras iniciativas em diversas unidades.

Magda Marante, assistente social da unidade Fazenda do Carmo, testemunhou o efeito positivo daquela ação com os adolescentes. Entre eles uma feira cultural, em que os internos criaram cartazes e relatórios que descreviam a vida e o legado de Martin Luther King, Mahatma Gandhi, Betinho e Zilda Arns — personalidades que motivaram suas próprias vidas.

Ela contou ainda que criaram uma peça de teatro com apresentações dentro e fora das unidades com os adolescentes caracterizados como "grandes sonhadores". E utilizaram as parábolas e reflexões dos livros da organização em atividades do dia a dia com adolescentes, funcionários e professores das unidades.

Todas as vezes em que estive com aqueles jovens sempre deixei claro que não estava ali para passar a mão na cabeça deles ou julgá-los.

Minha tarefa era mostrar que existe um outro lado da humanidade e que, possivelmente, a maioria deles ainda não tivera a oportunidade de conhecer —exemplos que poderiam guiá-los em suas caminhadas.

Acredito nesta força de transformação que a ONG propicia ao dar oportunidade para que todo cidadão se torne um agente de transformação na sociedade.

Nestes trinta e cinco anos de trabalho voluntário, recebi muito mais do que doei. Aprendi muito mais do que ensinei. E uma das maiores lições foi a de que crianças e jovens tornam-se para uma sociedade segundo a educação e o carinho que recebem, uma recompensa ou um castigo.

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