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É epidemiologista, professor da Escola Superior de Educação Física da Universidade Federal de Pelotas e coordenador do Epicovid-19, o maior estudo epidemiológico sobre coronavírus no Brasil.

Descrição de chapéu Coronavírus

Carta Aberta ao novo ministro da Saúde

Desejo-lhe boa sorte e que conte com a ciência; sua eventual vitória será a vitória do povo brasileiro

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Começo desejando-lhe BOA SORTE. Diferentemente do que alguns tentam disseminar, eu e os demais profissionais da saúde e cientistas críticos da resposta brasileira à pandemia não somos adeptos do “quanto pior, melhor”.

O senhor está diante do maior desafio de sua carreira, mas, ao mesmo tempo, se bem-sucedido, o senhor poderá marcar seu nome na história ao se tornar o ministro que conseguiu liderar a vitória brasileira contra o coronavírus. E sua eventual vitória será a vitória do povo brasileiro.

O primeiro passo é reconhecer a gravidade do problema. O Brasil possui 2,7% da população mundial, mas acumula 11,1% das mortes por Covid-19. São quatro vezes mais mortes do que seria esperado. No dia 27 de março, concentramos 34,3% das mortes por Covid-19 no planeta. Algo está muito errado, precisamos admitir.

Reaproxime os cientistas do Ministério da Saúde. A criação da Secretaria Especial para Combate à Pandemia de Covid-19 foi recebida com bons olhos no meio científico. Valorize o contraditório e crie um Comitê Científico Nacional para o enfrentamento do coronavírus, composto por profissionais de saúde e pesquisadores de diversas áreas. O senhor pode ajudar a “furar bolhas”, juntando profissionais com diferentes posições científicas, trabalhando juntos, a serviço da vida.

O terceiro passo é dar prioridade para a aquisição de vacinas para imunizar, até o final do ano, todos os brasileiros elegíveis. A meta é vacinar 1,5 milhão de pessoas por dia. É urgente a interlocução junto à Organização Mundial da Saúde, à Organização das Nações Unidas, aos governos de outros países e às indústrias farmacêuticas para priorização do Brasil na distribuição de vacinas, tendo em vista o quadro epidemiológico atual. Não precisamos de mais vacinas somente no segundo semestre; precisamos de mais vacinas em abril e maio. Nenhum país há de negar ajuda ao Brasil, já que a nossa “fábrica de variantes” pode prejudicar a imunização global.

O quarto passo é a disseminação pelo Ministério da Saúde de mensagens unificadas sobre tópicos cujas evidências científicas são inequívocas, como a importância do uso de máscaras, a necessidade de evitar aglomerações e o estímulo para que todos os brasileiros se vacinem quando chegar a sua vez.

O quinto passo seria a redação de um protocolo nacional para o manejo da Covid-19, baseado em evidências e construído em colaboração com as sociedades científicas. Tal protocolo seria a posição oficial do Ministério da Saúde, e certamente diminuiria a circulação de notícias falsas sobre o tema.

Em sexto lugar, lidere um trabalho, junto aos parceiros estaduais e municipais, para a implantação de medidas de restrição compatíveis com o estágio epidemiológico da pandemia em cada local. As medidas atuais, de distanciamento parcial e de longa duração, estão destruindo a saúde pública e a economia do Brasil. Exerça sua liderança para propor medidas mais duras e mais curtas. E, nesses períodos curtos, articule com os três Poderes da República, para garantir proteção social aos indivíduos, para que possam ficar em casa, e às empresas, para que possam manter suas portas fechadas.

Por fim, não dê eco ao discurso de que a solução é ampliar infinitamente o número de leitos. O funcionamento de um leito depende de profissionais, e esses são finitos. Não se vence uma pandemia criando leitos, mas, sim, restringindo a circulação do vírus e vacinando a população. Mais uma vez, BOA SORTE. Conte com a ciência para vencer o vírus.

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