Pedro Hallal

É epidemiologista, professor da Escola Superior de Educação Física da Universidade Federal de Pelotas e coordenador do Epicovid-19, o maior estudo epidemiológico sobre coronavírus no Brasil.

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Pedro Hallal

SOS Brasil: vacinação ou morte

Em 7 de setembro de 1822, D. Pedro 1º exclamou "independência ou morte"; em 16 de março de 2021, a ciência brasileira exclama "vacinação ou morte"

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Na semana que passou, o Brasil ultrapassou a Índia e assumiu o segundo lugar entre os países com maior número de casos de Covid-19 desde o início da pandemia. Em relação às mortes, fomos disparadamente o país com mais mortes na última semana. No dia 12 de março, 22,7% de todas as mortes por Covid-19 no mundo aconteceram no Brasil. Só o Brasil e os Estados Unidos tiveram mais de 1.000 mortes naquele dia.

O gráfico que acompanha a coluna mostra a abismal diferença entre o Brasil e outros países em termos de mortes diárias. Não é alarmismo: a situação é dramática.

Somos hoje o epicentro da pandemia e representamos uma ameaça à saúde pública global. Lembram-se da sensação que tínhamos em relação ao Congo durante o surto de ebola? É isso que sentem os outros países em relação ao Brasil hoje.

Mas diferentemente de alguns meses atrás, hoje existe uma luz no fim do túnel. As experiências bem sucedidas que combinam aceleração da vacinação com lockdown de curta duração fizeram com que praticamente todos os maiores países do mundo estejam com casos, hospitalizações e mortes em declínio.

Por isso, dirijo-me aqui aos brasileiros e brasileiras preocupados com a situação econômica do país. Escrevo para os milhões de desempregados e, também, para os pequenos comerciantes, que perderam ou correm o risco de perderem seus negócios. Por mais doloroso que um lockdown nacional rigoroso de três semanas possa ser, é só ele, combinado com a aceleração da vacinação, que vai nos levar a tal luz no fim do túnel.

A experiência de pandemias anteriores mostra que não existe dilema entre economia e saúde pública. Para ambas, quanto menos vidas forem perdidas, melhor.

Chegou a hora de deixar as diferenças ideológicas de lado, ouvir a ciência e correr em direção à luz no fim do túnel. Na última semana, até o governo federal, que desde o começo da pandemia tem jogado no time do vírus, demonstrou alguma boa vontade em migrar para o nosso time, o daqueles que estão contra o vírus. Mesmo que tardio, esse movimento, se confirmado, é bem-vindo. O time dos que lutam diariamente contra o vírus precisa de reforços.

Mas nesse momento, não há como negar que precisamos de ajuda externa. Os governos dos demais países, a Organização Mundial da Saúde e as indústrias farmacêuticas precisam voltar suas atenções para o Brasil. A alta circulação do vírus no Brasil é a oportunidade perfeita para o vírus criar mutações. Algumas poderão ser ainda mais letais. Outras poderão atingir fortemente as crianças. Precisamos evitar que isso aconteça urgentemente.

Por isso, a prioridade da saúde pública mundial agora deve ser acelerar a vacinação da população brasileira, evitando que novas variantes surjam e que milhares de vidas continuem sendo perdidas por dia. Aí entra o papel das indústrias farmacêuticas, dos outros países e da Organização Mundial da Saúde. É obrigatório garantir mais insumos e estrutura para que o Butantan e a Fiocruz continuem a produzir suas vacinas e, também, é obrigatório que outras vacinas cheguem imediatamente ao Brasil, aos milhões, nas próximas semanas. De nada adianta prometer a entrega de milhões de vacinas para o Brasil no segundo semestre. A hora é agora: vacinação ou morte!

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