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Especialistas da plataforma Por Quê?, iniciativa da BEĨ Editora, traduzem o economês do nosso dia a dia, mostrando que a economia pode ser simples e divertida.

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Mauro Rodrigues

Economia como método de análise

Público geral acha que esta ciência se resume a prever a taxa de câmbio ou bizarrices similares

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Mauro Rodrigues

Professor de economia na USP e autor do livro "Sob a Lupa do Economista"

Quando abrirmos o caderno de economia de um jornal, ou quando ouvimos notícias no rádio e na TV, quase sempre os temas discutidos são a inflação do mês, a arrecadação total de impostos do semestre, que frustrou as expectativas ou veio acima do esperado e, obviamente, o valor do dólar em relação a nossa moeda naquela semana.

Em resumo, o foco é quase que totalmente em assuntos da macroeconomia e, para piorar, centrado no curto prazo. Talvez deva ser assim, e certamente são esses os temas que as pessoas esperam ou querem mesmo ler. Porém, e reconhecemos o tom nostálgico e pessoal da afirmação, não deixa de ser uma pena —por diversos motivos.

Primeiro, porque nós, economistas, entendemos bem pouco das oscilações de curto prazo, mas ainda assim saímos dando opinião como se entendêssemos bastante (por incentivos financeiros ou por ingenuidade intelectual).

Departamentos mais modernos de história, ciências políticas e relações internacionais usam modelos e técnicas empíricas originados da ciência econômica - stock.adobe.com

Segundo, porque a força de gravidade do curto prazo faz com que questões estruturais fiquem relegadas a segundo plano, ainda que sejam mais relevantes para a sociedade do que saber se a Selic vai subir ou cair 0,5% na próxima reunião do Banco Central.

Terceiro, porque o aparato lógico-empírico ao qual o economista é submetido nos seus muitos anos de treinamento na graduação e na pós-graduação o habilita a tratar de uma variedade enorme de temas não classificados como macroeconômicos.

Os departamentos mais modernos de história, ciências políticas e relações internacionais usam modelos e técnicas empíricas originados da ciência econômica. Na medicina, a importância da estatística é incontestável; a biologia emprega a roldão Teoria dos Jogos, conceitos de competição e equilíbrio etc. As outras disciplinas que nos perdoem, mas a economia é a rainha das ciências sociais (como a literatura é das artes). Mas isso pouco chega ao público geral e mesmo a muito do especializado, que acha que a economia se resume a "prever" a taxa de câmbio ou bizarrices similares.

Na sua base, a economia trata essencialmente de entender as escolhas das pessoas, firmas e governos sob restrições, tomando boa parte do ambiente, do entorno, como dado. Sobre o último ponto, vale exemplificar para esclarecer: você aceita ou não trabalhar por um dado salário vigente, mas não tem poder de alterar o salário vigente; ou decide viajar ou não com base nas suas preferências e orçamento, mas não altera o preço da passagem (e nem mesmo as firmas têm muito poder de alterar preços a seu bel-prazer num mercado com competição).

É a partir daí que se levanta o edifício teórico, do qual a macro é apenas a pontinha do iceberg, ou melhor, uma pontinha. E o método empírico, apoiado sempre na parceria com a estatística, valida ou não, em maior ou menor grau, os modelos teóricos. É bastante similar, metodologicamente dizendo, à física. E é belo. Diferentemente da física, no entanto, a economia também estuda análise estratégica: como agir dada minha expectativa de como agirão os outros. É belíssimo (e difícil).

Com esse arcabouço, podemos formular diversas perguntas, como: "qual é a melhor estratégia para incentivar a produção de vacina contra malária?"; "por que a pipoca custa muito caro no cinema?"; "é melhor o Bolsa Família ou o Fome Zero?"; "que situações um aumento do salário mínimo ajuda/prejudica os mais pobres?"; "por que o Chile é mais desenvolvido que o Brasil?"; "quais os problemas associados à privatização das prisões?"; "como reduzir a poluição nos grandes centros urbanos?"; "por que o sistema de voto distrital é melhor para o combate à corrupção do que o que empregamos no Brasil, qual seja, o voto proporcional?"; "por que a latinha de refrigerante é cilíndrica e a caixa de leite é retangular?".

Entender a teoria da escolha dá uma base sólida para pensar nesses problemas e em muitos outros. Para os interessados, alguns livrinhos que despertam o apetite:

  • Tim Harford. "O Economista Clandestino" (Record, 2011)
  • Carlos Eduardo Gonçalves e Mauro Rodrigues. "Sob a Lupa do Economista" (Campus, 2015)
  • Abhijit V. Banerjee e Esther Duflo. "A Economia dos Pobres" (Zahar, 2021)
  • Steven E Landsburg. "Mais Sexo é Sexo Mais Seguro" (Campus, 2008)
  • Robert Frank. "O Naturalista da Economia" (Best Seller, 2009)
  • Steven D. Levitt e Stephen J. Dubner. "Freakonomics: O Lado Oculto e Inesperado de Tudo que Nos Afeta" (Alta Cult, 2019)
  • Steven D. Levitt e Stephen J. Dubner. "Superfreakonomics: O Lado Oculto do Dia a Dia" (Alta Cult, 2019)
  • Bernardo Guimarães. "A Riqueza da Nação no Século 21" (BEĨ, 2015)
  • Carlos Eduardo Gonçalves e Bernardo Guimarães. "Economia sem Truque" (Campus, 2008)
  • Avinash K. Dixit e Barry J. Nalebuff. "A Arte da Estratégia" (Auster, 2022)
  • Jean Tirole. "Economia do Bem Comum" (Zahar, 2020)

Divirtam-se!

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