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De Grão em Grão - Michael Viriato
Michael Viriato
Descrição de chapéu Selic juros copom

A ilusão da agressividade: como o passado distorce nossa percepção de risco

A montanha russa do mercado é capaz de deixar tonto vários investidores que se dizem agressivos; descubra como manter a calma nas voltas mais arriscadas

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Você já percebeu que quando olhamos o carrinho de montanha russa dando reviravoltas e rodopios, parece superdivertido? Olhando de fora, as pessoas parecem cheias de energia e soltar gritos de alegria. Entretanto, se você já passeou em uma daquelas grandes montanhas russas, sabe que quando estamos sentados no carrinho a situação é diferente. O estômago sobe à boca, o sangue some da face, tudo perece rodar e a não fazer sentido. Pensamos, o que eu estou fazendo aqui? O mesmo ocorre com o risco.

A montanha russa do mercado é capaz de deixar tonto vários investidores que se dizem agressivos - Getty Images via AFP

No fim do ano passado, ao conversar com um investidor sobre as possibilidades de investimento, ele me sentenciou que se considerava um investidor agressivo.

Lembro bem de suas palavras: "Michael, estou comprando para segurar. Não me importa o que vai ocorrer no meio do caminho. Sei bem da oscilação."

Ele se referia a dois investimentos que gostaria de investir um percentual mais elevado na carteira, pois, segundo sua expectativa, "nos próximos 5 anos, não tem como perder."

Ah, a montanha russa. Eu gosto de ver, mas tenho um problema em passear nelas. Aguento bem o risco e sou realmente um investidor agressivo. Mas não consigo dar duas voltas em uma montanha russa. Na primeira queda, já estou tonto e gritando: "para que eu quero descer". No fim, penso "por que eu quis subir?"

A maioria dos investidores suporta mais os rodopios da montanha russa a uma simples balançada do mercado.

Os dois ativos que ele queria investir eram ações pagadoras de dividendos e no título Tesouro Renda +2040. O investidor que eu conversava, pensava em se aposentar em 15 anos e acreditava que se dividisse sua carteira apenas nestes produtos e esquecesse, faria um grande negócio.

Lembro que ele repetiu uma frase que disse ser atribuída a Luiz Barsi Filho: "O que importa são os dividendos. A oscilação dos preços não importa". Não posso afirmar se Barsi falou exatamente isso, mas já vi ele algumas vezes falando que o que importa são os dividendos.

De fato, quando olhamos os últimos 5 anos, o índice IDIV de ações pagadoras de dividendos rendeu o equivalente a 11,3% ao ano quando considerado dividendos e ganho de capital. No mesmo período, o CDI rendeu uma média de 7,9% ao ano. Portanto, o IDIV se valorizou 143% do CDI.

Quando se avalia uma taxa de IPCA+5,51% ao ano que era a taxa do Tesouro Renda+2040 ao fim de 2023, também é possível dizer que possivelmente será maior que o CDI no longo prazo. Afinal, no longo prazo, o CDI rendeu em média IPCA+3,8% ao ano.

O difícil é "esquecer", ou seja, não olhar para o curto prazo. O problema está na marcação a mercado de curto prazo de produtos de risco como estes que sofrem grandes oscilações com o mercado.

Em 2024, o IDIV se desvalorizou 2,5% e o Tesouro IPCA2040 caiu 7,7% até o dia 10 de abril.

O mesmo investidor me ligou essa semana para perguntar se deveria "pedir para parar, pois queria descer". Na hora, lembrei de mim na montanha russa.

Esse é um caso muito comum entre investidores.

Avaliar que você suporta o risco depois que viu que deu tudo certo para um ativo no passado é fácil. O problema vem quando se senta no carrinho e sentimos os efeitos dos rodopios. A certeza sobre que tudo vai dar certo e basta tão somente esperar é abalada no primeiro solavanco da montanha russa do mercado.

Portanto, cuidado ao achar que você é agressivo só porque viu um investimento de risco que deu certo no longo prazo. Sempre que decidir por um investimento que tenha possibilidade de sofrer oscilações com o mercado, aplique inicialmente pouco e sinta o efeito dos rodopios da montanha russa. Assim, vai evitar de realizar perdas em momentos que o mercado se mostrar desfavorável.

Michael Viriato é assessor de investimentos e sócio fundador da Casa do Investidor.

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