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Jornalista e autor de "Escola Brasileira de Futebol". Cobriu sete Copas e nove finais de Champions.

Descrição de chapéu Copa Libertadores 2020

Decisão da Libertadores tem dois treinadores camaleônicos

Abel Ferreira, do Palmeiras, e Cuca, do Santos, tornam final imprevisível

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Depois de enfrentar o Atlético-MG na terça-feira (26), Cuca deu entrevista coletiva e saiu em direção ao campo de jogo do Mineirão. Foi até a área técnica do time mandante, ajoelhou-se com o corpo voltado para o gol onde foram batidos os pênaltis da final da Libertadores de 2013, e rezou por dois minutos.

Naquela trave, o Atlético ganhou o título e Cuca estava na mesma posição na hora das cobranças. Há muito tempo, esse tipo de gesto do treinador santista é visto como superstição. É religião.

Ninguém precisa comungar da mesma fé, e o Santos não vencerá o Palmeiras por seu técnico vestir camisa com a imagem de Nossa Senhora ---nem por ser o time dos Santos.

Cuca tem seus pecados, mas pagou alguns deles nestes últimos meses de pandemia. Depois de um problema cardíaco, contraiu Covid-19 e ficou em estado grave. Tinha dificuldade de respiração e, infectado pelo coronavírus, teve hepatite.

Milagre mesmo foi ter transformado o ambiente do vestiário do Santos. Quando chegou, o elenco estava indignado com o corte de 70% dos salários de maneira unilateral. O presidente José Carlos Peres prometia devolver a maior parte do dinheiro, mas o clima era péssimo.

Jesualdo Ferreira tentou segurar, mas ele próprio foi demitido depois de perder a classificação nas quartas de final do Paulista. Durou só 15 jogos.

O técnico Cuca durante a primeira partida semifinal do Santos contra o Boca Juniors, na Bombonera - Marcelo Endelli - 6.jan.21/Reuters

O fracasso de Jesualdo não inibiu o desejo do Palmeiras de contratar o português Abel Ferreira.
Chegou credenciado por ter eliminado o Benfica de Jorge Jesus da Champions League, como treinador do PAOK, da Grécia. Mas não foi por isso. O Palmeiras queria o espanhol Miguel Angel Ramírez. Sem ele, estudou e também recebeu indicações de agentes. Giuliano Bertolucci foi um deles.

Na sua chegada, Abel não encontrou terra arrasada. Com Luxemburgo, já tinha a melhor defesa do Brasil e sofreu três derrotas seguidas em três partidas consecutivas sem seu melhor zagueiro, Gustavo Gómez. Abel tinha de melhorar o ataque, que saltou de 1,4 gol por jogo para 1,8 com o novo treinador.

Era diferente no Santos, em que havia uma crise geral. O vestiário não confiava na diretoria e o time não estava montado. Ao ser questionado sobre a razão de aceitar o convite, em julho, Cuca respondeu a este colunista: “Os problemas são os mesmos de 2018, quando eu estava lá. O presidente é o mesmo. Mas eu estou diferente. Está na hora de trabalhar. Vou fazer dar certo.”

Cuca é dos mais inquietos treinadores da América do Sul. Repertório, uma palavra que virou clichê entre comentaristas, ele tem sobra. Dirigiu times que atacam, soube montar sistemas defensivos sólidos, foi chamado de perdedor, mas ganhou a Libertadores pelo Atlético e o Brasileiro pelo Palmeiras. Quando usou armas antigas a favor de seu time, foi acusado de só saber fazer gol de arremesso lateral na área.

Um dos fatores de imprevisibilidade da decisão deste sábado (30) no Maracanã é ter dois treinadores camaleônicos. O Palmeiras muda de rosto de acordo com o adversário. Contra o River Plate, Abel Ferreira usou linha de cinco defensores, sistema 3-4-3 que se transformava em 5-4-1 quando os argentinos tinham a bola.

Com Gabriel Menino e Marcos Rocha juntos, na final contra o Santos, o Palmeiras inicia atacando e pode terminar defendendo. Mas a força alviverde é a pressão na altura do meio-de-campo, retomada e velocidade. De 44 gols sob o comando de Abel, 10 foram de contra-ataque.

O Palmeiras é mais forte, mais rápido, o que pode ser decisivo. Cuca tem seus milagres.

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