Jornalista e autor de "Escola Brasileira de Futebol". Cobriu sete Copas e nove finais de Champions.
Brasil precisa se perguntar por que não consegue formar técnicos
É necessário trabalhar para que brasileiros possam estar entre melhores do mundo
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Pia Sundhage custa US$ 20 mil mensais à CBF e mais todas as despesas pagas. Pela cotação atual, são R$ 104 mil. Ainda que a premiação pela medalha de ouro olímpica seja igual para homens e mulheres, Pia pode agregar ao Brasil muito mais do que recebe.
Guardiola é assunto a cada derrota brasileira. Pep recebe o equivalente a R$ 11 milhões por mês para dirigir o Manchester City. Nenhuma seleção paga tanto. Uma lista publicada antes do início da Copa do Mundo da Rússia indicava o alemão Joachim Löw como o mais bem pago, com R$ 1,3 milhão por mês.
Marta julga que o Brasil nunca foi tão respeitado quanto é hoje. Ainda que se possa reconhecer méritos em técnicos do passado, responsáveis por convocar muitas das atuais selecionadas pela primeira vez, Pia tem seus métodos de treino extremamente elogiados e o olhar admirado de rivais por possuir duas medalhas de ouro e uma de prata em torneios olímpicos.
Não deve haver nenhum tipo de preconceito com a nacionalidade do técnico. Mas há uma pergunta: por que este país apaixonado por futebol não consegue formar alguns dos destaques da profissão no mundo?
Há 15 anos, cinco dos 32 treinadores da Copa do Mundo eram brasileiros: Parreira, Felipão, Zico, Marcos Paquetá e Alexandre Guimarães –este naturalizado costa-riquenho. Não nos sobrava conhecimento mais do que hoje. Foi a admiração do planeta pelo país campeão mundial que levou Scolari para Portugal, Zico para o Japão, Paquetá para a Arábia Saudita.
Mas cinco anos antes, em 2001, depois de o Brasil ser eliminado da Copa América por Honduras, debateu-se ter um estrangeiro na seleção, e o nome citado era Sven-Goran Eriksson, sueco que fala muito bem o português. Houve o uruguaio Ramón Platero, no Sul-Americano de 1924, e o argentino Filpo Nuñez, em uma partida de 1965, à margem do campo do Brasil. Filpo era técnico do Palmeiras, escolhido para representar a seleção na inauguração do Mineirão e, só por isso, sentou-se no banco.
A sueca Pia nos dá respeito, o espanhol Jorge Dueñas ajuda o handebol feminino a fazer jogo duro com a Rússia, evoluímos na ginástica com treinadores do exterior, mas o basquete masculino não voltou a ser potência e nem sequer está nas Olimpíadas, apesar de ter sido dirigido por seis anos pelo argentino Rubén Magnano e há quatro pelo croata Aleksandar Petrovic.
O vôlei, ao contrário, virou potência a partir de 1980 e formou aqui alguns dos melhores treinadores do mundo. Segue a pergunta: por que não formamos nossos mestres?
No passado, Zagallo, Minelli, Telê Santana e Felipão iam para a Ásia ensinar a técnica. Exportávamos professores e éramos reconhecidos por ajudar na formação de bons jogadores em lugares que ainda precisavam aprender a chutar, passar e a dominar uma bola.
Só que não faltou estratégia a Minelli, ou a Zagallo, e isso é reconhecido pelo autor inglês Jonathan Wilson. “O Brasil foi vanguarda tática por muitas décadas”, afirma ele.
Pia pode deixar aqui uma medalha que valerá muito mais do que os US$ 20 mil mensais que recebe. Mas o que custa caro mesmo é não investir em formação e em informação. O Brasil paga o alto preço de não investir em educação desde que aqui chegou Cabral.
Se não formamos bem engenheiros, advogados, médicos e jornalistas, descobrimos agora que precisamos formar melhor, também, treinadores de futebol. Não basta se conformar. É necessário trabalhar para que, em breve, um técnico brasileiro possa estar entre os melhores do planeta.
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