PVC

Jornalista e autor de "Escola Brasileira de Futebol". Cobriu sete Copas e nove finais de Champions.

Salvar artigos

Recurso exclusivo para assinantes

assine ou faça login

PVC
Descrição de chapéu Tóquio 2020

Medalha de ouro é mais importante para seleção feminina do que para a masculina

Desenvolver o esporte, qualquer um, exige motivar o maior número de pessoas a praticá-lo

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

"Toca que los arrollo!" A frase está na história do futebol olímpico e deu origem ao apelido de Fúria, recentemente abandonado pela seleção espanhola. O atacante Belauste, do Athletic Bilbao, pediu a bola a Sabino, seu companheiro de clube. Recebeu e fuzilou o goleiro Zander, da Suécia.

A vitória espanhola manteve o time na disputa por medalha —levou a prata. O ouro ficou com os belgas, donos da casa.

Do romântico futebol olímpico da década de 1920, da Celeste, até a medalha de ouro conquistada pela seleção de Neymar, Weverton e Renato Augusto, houve razão para o sonho olímpico: era impossível. Antes do profissionalismo, instalado no Brasil em 1933, porque éramos inferiores. Depois de 1952, porque o bloco socialista tomou conta de todas as medalhas de ouro até 1980. A partir daí, o sonho possível resultou em medalhas de prata (1984, 1988, 2012) e de bronze (1996 e 2008) antes do ouro, no Rio.

Só que a Olimpíada não é a elite no futebol. Já foi entre as mulheres e também não é mais. O torneio feminino não tem as participações de Alemanha, última campeã, e Espanha, do Barcelona campeão da Liga dos Campeões, nem da França, de clubes de investimento forte como Lyon e Paris Saint-Germain.

É improvável —mas possível— o Brasil ganhar a medalha de ouro no feminino. O time está mais competitivo sob o comando da sueca Pia Sundhage, bicampeã olímpica pelos EUA e treinadora que venceu o Brasil em sua segunda e última final. Em 2008, Pia estava no banco norte-americano e assistiu à atacante Carli Lloyd fazer o gol da medalha de ouro aos 8 minutos do primeiro tempo da prorrogação.

Por duas Olimpíadas consecutivas, o Brasil perdeu a final para os Estados Unidos no tempo suplementar.

O futebol feminino mudou muito mais rapidamente do que o masculino nos últimos 15 anos —e por razão clara: investimento. No início deste século, as mulheres eram muito competitivas na Ásia, na Escandinávia, na Alemanha e nos Estados Unidos.

Entre os países latinos, logo machistas, o Brasil era melhor do que Itália, França, Argentina, Colômbia, Chile... Enquanto francesas, inglesas e espanholas ganharam conhecimento tático, técnico e tecnológico, além de investimento de clubes pesados como Barcelona, Chelsea, Arsenal, Manchester City, Lyon e Paris Saint-Germain, o Brasil só agora começa a ter um campeonato regular e com clubes de torcida.

Corinthians, São Paulo e Palmeiras terminaram o último Brasileiro em primeiro, terceiro e quarto lugares, respectivamente. A média de espectadores na TV se multiplicou por cinco. É bom. Em novembro de 2019, a final do Paulista entre Corinthians e São Paulo teve 28 mil torcedores em Itaquera. Recorde nacional.

Na Espanha, antes da pandemia, Barcelona e Atlético de Madrid jogaram para 60 mil.

A diferença é de organização mas também de um país em que meninas ganham bonecas de presente e meninos recebem bolas de futebol. Nada contra quem quiser brincar de casinha —ou de boneca. A questão é que desenvolver o esporte, qualquer um, exige motivar o maior número de pessoas a praticá-lo.

Quando o Brasil era o país do futebol, alijava 50% da população. Hoje, quando o planeta quer praticar e assistir ao esporte mais popular do planeta, é necessário cativar cada vez mais gente, seja atleta, torcedor ou consumidor. Para o desenvolvimento do futebol brasileiro, a medalha de ouro olímpica hoje é muito mais importante para a seleção feminina do que para a masculina.

LINK PRESENTE: Gostou deste texto? Assinante pode liberar cinco acessos gratuitos de qualquer link por dia. Basta clicar no F azul abaixo.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.