A Agência para Integridade do Tênis investiga duas partidas que podem ter resultados comprometidos por sites de apostas, no início do Torneio de Wimbledon. As denúncias se baseiam no volume incomum de apostadores em um jogo de simples e em outro de duplas.
A notícia surgiu no dia seguinte à conquista de Novak Djokovic e ao mesmo tempo em que o jornal O Globo informava que 85% dos clubes brasileiros, da Série A, têm parcerias com sites desse tipo.
Há um agravante: no Brasil, o setor não está regulamentado. A lei 13.758/18 legalizou a atividade, mas o Ministério da Economia bateu cabeça por dois anos para fazer a modelagem do negócio, que agora está entregue ao BNDES. Sem regulamentação, os sites arrecadam no exterior, não pagam impostos aqui e não têm obrigações que existem em outros países, como informar autoridades quando o volume de apostas se torna suspeito.
Todos os grandes escândalos de resultados arranjados no planeta têm a ver com apostadores.
O Tottonero, na Itália, em 1980, suspendeu Paolo Rossi por dois anos, não por participar, mas por conhecer casos e manter cumplicidade com o esquema.
A Máfia da Loteria Esportiva, denunciada pela revista Placar, em 1982, implicou 125 nomes entre atletas, técnicos e dirigentes. O Calciopoli, na Itália, em 2005, rebaixou a Juventus e quase implicou o ídolo Gianluigi Buffon. O goleiro escapou, por não haver prova de que apostava em partidas das quais participava.
Também em 2005, o árbitro Edílson Pereira de Carvalho se tornou réu confesso, após o repórter André Rizek mostrar, na revista Veja, que ele se envolveu em arranjos.
Na época, o site AE Bet, percebeu o volume alto nos jogos apitados por Edílson e os retirou do cardápio. Cada rodada do Brasileirão tinha 11 partidas, mas apenas dez com possibilidade de palpite. Quando Edílson Pereira de Carvalho aparecia na escala, os dois times envolvidos desapareciam do menu.
O site AE Bet percebeu o volume suspeito, mas não avisou o governo ou a polícia, o que seria obrigatório com a regulamentação.
Os jogos de azar estão proibidos no Brasil desde 30 de abril de 1946, no governo Eurico Gaspar Dutra. Os sites estão legalizados, mas é fundamental criar regras para o funcionamento.
O grupo de jogos online Bwin, sediado na Áustria, teve sua marca estampada nas camisas do Milan, entre 2006 e 2010, e do Real Madrid, de 2007 a 2013.
A Espanha proibiu a exposição dos sites de apostas, e a Inglaterra discute se deve ser permitido esse tipo de publicidade.
Há oito times do Campeonato Inglês com patrocínios de jogos online. Nas emissoras de rádio e TV da Inglaterra, a publicidade vem acompanhada do alerta “jogue com responsabilidade”, como os anúncios de bebidas alcoólicas no Brasil.
Nenhum time de futebol do planeta vai querer abrir mão desse tipo de verba, num momento em que o mercado publicitário encolhe. Há 30 anos, era impossível pensar em carros de Fórmula 1 sem as marcas Marlboro, ou John Player Special. O tabaco foi proibido como patrocínio em 2007.
Timidamente, algumas marcas tentam retornar, de modo subliminar, seja com a Mission Winnow, na Ferrari, ou com os cigarros eletrônicos Vuse, na McLaren.
No caso da F1, quem faz o pacto com o diabo é o fumante. No futebol, parcerias com jogos online, sem regulamentação, sem que paguem impostos e, principalmente, sem necessidade de avisar quando houver suspeitas de fraudes, é correr o risco de um novo escândalo afetar todo o esporte.
Quando isso acontecer, os donos dos sites vão apostar em outra coisa.
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