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Jornalista, comenta na Globo e é cofundadora do Dibradoras, canal sobre mulheres no esporte.

Santos construiu tradição no futebol feminino, mas hoje mostra descaso

Postura do clube fora de campo ajuda a explicar por que as coisas não têm funcionado

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Não vou gastar linhas aqui falando da tradição de um dos maiores clubes de futebol do mundo. A história vitoriosa que trouxe o Santos até aqui cobra quando o clube apresenta resultados que não correspondem com ela. Um clube que teve Pelé, Coutinho e tantos outros no futebol masculino, que teve Marta e tem Cristiane de novo no futebol feminino, não conquistou a grandeza por acaso.

E se no futebol masculino vimos o Santos agonizar por conta de gestões irresponsáveis —brigou para não ser rebaixado no Campeonato Paulista nos últimos dois anos—, no futebol feminino o sinal de alerta já foi ligado (e segue sendo ignorado).

As chamadas Sereias da Vila construíram sua tradição há mais de uma década. Com Marta, Cristiane e companhia, encantaram o continente e conquistaram a América pela primeira vez em 2009. Inclusive, foi por causa delas que se criou a Libertadores feminina naquele ano. Campeão da Copa do Brasil em 2008, cobrou-se que no feminino fosse respeitada a mesma lógica do masculino (do campeão da Copa do Brasil disputar a Libertadores), e então a Conmebol organizou uma competição sediada no Brasil, com jogos em Santos, Guarujá e São Paulo.

Jogadoras do Santos na partida contra o Red Bull Bragantino, pelo Brasileiro feminino - Divulgação - 19.jun.22/Santos FC

São dois títulos da América, dois títulos de Copa do Brasil, quatro do Campeonato Paulista e um do Campeonato Brasileiro, este último conquistado em 2017 em cima do Corinthians. Desde então, o desempenho do Santos na competição nacional vem em queda. Foram quatro edições sem conseguir passar das quartas de final e na edição atual aconteceu o inexplicável: as Sereias da Vila, tão tradicionais, não conseguiram se classificar para o mata-mata do Campeonato Brasileiro.

Um time que tem Cristiane, artilheira do campeonato que fez sua temporada mais goleadora no futebol brasileiro desde que chegou em 2019. Que tem Brena, meio-campista de muita qualidade, Thaisinha, camisa 10 habilidosa, Ketlen, artilheira histórica do clube. Era um elenco, de certa forma, desequilibrado, é verdade, mas olhando para os oito times que se classificaram, é impossível entender como o Santos ficou de fora.

Talvez a postura do clube fora de campo ajude a explicar por que dentro de campo as coisas não têm funcionado há algum tempo. Se no futebol masculino, o Santos enfrentou muitos problemas de gestão nos últimos anos, no feminino a situação é ainda mais grave, porque que sequer há interesse em identificar o problema.

Procurei o clube e o presidente, Andrés Rueda, para um posicionamento sobre essa eliminação precoce no Campeonato Brasileiro feminino e a resposta foi: "não vamos nos pronunciar sobre essa desclassificação".

Está sobrando para as jogadoras esse posicionamento. A experiente zagueira Tayla falou após a partida na transmissão do SporTV e pediu desculpas aos torcedores, a meio-campista Laura Valverde, formada no clube, também, e Cristiane fez uma postagem: "Me perdoem, vocês não mereciam a campanha vergonhosa que nós fizemos nessa competição!", escreveu a camisa 11.

E o que dirão os dirigentes do Santos? O que faz um clube de tamanha tradição não disputar sequer uma semifinal no Brasileiro feminino desde 2017? Quais erros aconteceram (de planejamento, de gestão dentro e fora de campo) para que o time não conseguisse ficar entre os 8 melhores, enquanto equipes mais modestas, com menor investimento, como o Real Brasília e o próprio Grêmio, estivessem lá? O anúncio da demissão da treinadora (feito após a publicação da coluna) não pode ser a única resposta.

​​Por enquanto, o silêncio de quem comanda o clube é ensurdecedor. E esse descaso de um dos times mais tradicionais do futebol feminino é ainda pior do que a eliminação precoce no Brasileiro.

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