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Jornalista, comenta na Globo e é cofundadora do Dibradoras, canal sobre mulheres no esporte.

Beira-Rio vira 'Gigante das Gurias' e deixa lição na final do Brasileiro

Futebol feminino não decepciona quem acredita nele

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Foi uma manhã tão bonita de sol em Porto Alegre que parecia que até a meteorologia estava jogando a favor. Não era possível que os torcedores perderiam a chance de aproveitar esse domingo da melhor forma, com um jogo de futebol em família logo pela manhã, pensei.

Às vezes, a gente se deixa levar pela dúvida que por tanto tempo boicotou o futebol feminino no Brasil e no mundo. Ninguém quer ver, é chato, ninguém se interessa. A verdade é que não queriam que a gente visse a história –e fizeram de tudo para impedir que ela fosse escrita.

"Há 35 anos eu imaginei isso na minha cabeça, e ninguém acreditava em mim", foi o que me contou Duda Luizelli, ex-jogadora com história vitoriosa no Internacional nos anos 1980. No último domingo, ela esteve presente no Beira-Rio junto com outras 36.330 pessoas, que registraram o recorde de público para uma partida entre clubes de futebol feminino no Brasil.

Beira-Rio virou "Gigante das Gurias" no domingo - Divulgação/CBF

A expectativa inicial divulgada pelo Inter quando foram confirmados o dia e o horário da primeira partida da final em Porto Alegre era de 12 mil torcedores. O clube havia registrado mais de 7.000 na semifinal e projetava quase dobrar esse número na decisão. O resultado foi o quíntuplo do antigo recorde do estádio para as mulheres em campo e só surpreendeu quem ainda insistia em não acreditar no potencial delas.

Já não há mais argumentos para repetir os clichês e insistir nas desculpas dadas por dirigentes preguiçosos, que preferem ignorar fatos e se prender a velhos preconceitos. No mundo todo, os estádios estão enchendo para jogos do futebol feminino, de clubes e de seleções. Aqui, demoramos para entender que seria possível lucrar com elas –como tem mostrado o Corinthians, que já arrecadou quase R$ 2 milhões em bilheteria só com o time feminino.

O Beira-Rio com 36 mil pessoas não foi um caso isolado. Na semana passada, a Arena da Baixada registrou mais de 28 mil pessoas para ver a final da Série A2 com as Gurias do Furacão diante do Ceará. No último sábado, mais de 7.000 estiveram no Presidente Vargas para comemorar o título da equipe cearense no jogo da volta. São ingressos gratuitos nesses casos (ou pagos com doação de alimentos), mas é o primeiro passo para despertar na torcida o interesse de acompanhar o time feminino.

No caso do Corinthians, que já iniciou esse trabalho há mais tempo, hoje já há cobrança de ingresso. No início do ano, quase 20 mil pagantes estiveram na Neo Química Arena para a decisão da Supercopa feminina entre Corinthians e Grêmio. A final do próximo sábado tem chance de estabelecer um novo recorde de vendas –a torcida já lançou a campanha "Invasão por Elas" e espera chegar a 40 mil torcedores em Itaquera.

Beira-Rio teve bom público; Neo Química Arena também terá - Cris Mattos - 18.set.22/CBF

Esses recordes em breve já não serão mais notícia porque serão frequentes. Jogar com estádios vazios, principalmente para os clubes de grandes torcidas, será uma opção de quem não quer trabalhar para um dia lucrar com o futebol feminino (o Corinthians poderá ser o primeiro clube superavitário da modalidade neste ano, justamente por causa da bilheteria).

O que aconteceu domingo no Beira-Rio dá o recado para quem tem poder de decisão: acreditem nas mulheres. A CBF pode fazer isso promovendo um campeonato melhor, com premiação mais digna, com estrutura profissional. Os clubes, investindo, criando uma estratégia de comunicação para engajar o torcedor. As TVs, promovendo as transmissões e colocando os jogos femininos em horários que possibilitem ao público ir aos estádios (não às 17h30 de um dia útil).

O futebol feminino não decepciona quem acredita nele. Sorte a minha e a de tantas mulheres que sempre acreditaram. É emocionante ver a história acontecendo diante dos nossos olhos –ainda mais com a certeza de que este é só o começo.

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