Renata Mendonça

Jornalista, comenta na Globo e é cofundadora do Dibradoras, canal sobre mulheres no esporte.

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Renata Mendonça
Descrição de chapéu Campeonato Brasileiro

A quem interessa um Campeonato Brasileiro de reservas?

O torcedor vai acabar entendendo o recado: importantes são os torneios de meio de semana

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Chegamos à 26ª rodada do Campeonato Brasileiro deste ano com a mesma discussão em pauta: o calendário exaustivo de jogos e os efeitos dele nos times em disputa.

Virou assunto recorrente nas coletivas dos treinadores. Mas a discussão teórica do problema de um calendário tão apertado de jogos talvez nunca tenha tido tanto efeito prático como nesta temporada.

É verdade que vimos em 2020 times indo a campo muito desconfigurados por conta dos desfalques de surtos de Covid-19 no elenco. Mas em 2022 o que estamos vendo ao longo de todo o campeonato, desde a primeira rodada, são equipes poupando jogadores para evitar o desgaste máximo daqueles que precisam entrar em campo praticamente toda quarta e todo domingo desde junho.

São Paulo enfrentou o rival Corinthians com reservas - Carla Carniel - 11.set.22/Reuters

Todo fim de semana, criamos grandes expectativas sobre confrontos entre os principais times do país no Campeonato Brasileiro e, de repente, em boa parte deles, vemos as equipes entrando em campo sem força máxima porque precisam preservar os melhores jogadores para os torneios mata-mata.

Tivemos recentemente um Palmeiras x Flamengo, confronto direto de líder e vice-líder, em que o clube carioca teve uma escalação com apenas três jogadores do time considerado titular. No último domingo, tivemos um clássico do tamanho de São Paulo x Corinthians com Rogério Ceni mandando a campo um time de reservas.

Não sei se é exceção ou regra, porque daria para destacar pelo menos um ou dois jogos por rodada desde o início do campeonato em que uma das equipes envolvidas não foi a campo com sua força máxima no Brasileiro.

Técnico do Corinthians, Vítor Pereira foi criticado por ter mandado a campo um time mesclado contra o Palmeiras no primeiro turno (perdeu por 3 a 0) quando tinha jogo da Libertadores no meio da semana. Dorival Júnior tem sido questionado no Flamengo pela decisão de poupar seus principais jogadores nos jogos do Brasileirão enquanto vê a distância para o líder, Palmeiras, aumentar. O Fla-Flu do próximo domingo vai ter força máxima?

O Internacional, hoje vice-líder, entrou com um time alternativo no jogo contra o Fortaleza (perdeu por 3 a 0) para preservar sua força máxima para a Sul-Americana. O Atletico-MG, que hoje não é apontado como candidato a título, mas era no início da competição, também optou por deixar Hulk e outros titulares de fora de jogos do Brasileiro focando os torneios de meio de semana (Libertadores e Copa do Brasil). O Palmeiras foi quem menos fez isso ao longo da competição. Inclusive, quando começou a Série A, chegou a poupar o time principal na primeira fase da Libertadores para contar com a força máxima nos jogos da competição nacional.

Dos times que hoje ocupam o G6 do Brasileiro, Palmeiras e Fluminense (este eliminado da Sul-Americana na primeira fase, então com um pouco mais tempo de respiro entre os jogos) foram os que menos pouparam jogadores em partidas da competição. Todos os outros fizeram "concessões", não porque achavam que essa seria a melhor estratégia, mas porque ela aparentava ser a única estratégia possível para sobreviver ao calendário do futebol brasileiro.

Palmeiras e Fluminense pouparam menos do que rivais - Sergio Moraes - 27.ago.22/Reuters

Na fase mais decisiva da temporada, só dois times resistiram às três competições. Flamengo e São Paulo estão jogando toda quarta e todo domingo desde julho, sem ter uma semana sequer de intervalo.

Minha impressão é que essa foi a forma que os treinadores encontraram de gritar o que eles tentam comunicar há anos. O calendário do futebol por aqui é inviável. E a quem interessa ter um Campeonato Brasileiro de reservas? A CBF vê seu produto se enfraquecer, a TV transmite jogos de times alternativos e desconfigurados, e a consequência disso é que o torcedor vai acabar entendendo o recado: importantes mesmo são os torneios de meio de semana, o Brasileiro é só "o resto".

O debate é mais do que urgente, é questão de sobrevivência.

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