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Roteirista e autor de “Diário da Dilma”. Dirigiu o documentário “Uma Noite em 67”.

Isso é tão 2019!

Ano passado eu morri um pouco por dentro, mas esse ano eu não morro

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Enfim, parimos 2019.

O ano do recalque coletivo, do empoderamento dos ressentidos, da cólera santa, dos delírios conspiratórios.

Toda solidariedade àqueles que passaram os últimos 365 dias com o corpo doído, insônia e ansiedade descontrolada. Tudo junto com uma sensação de precipício na boca do estômago.

Enfim, terminou.

O suspiro das festas de final de ano, no entanto, nos cerca de afeto e somos capazes de arriscar otimismos irresponsáveis. Por exemplo, projetar o magnífico e colorido dia em que o Brasil chegará ao seu limite. A partir de então, quando confrontados com comportamentos corrosivos, vamos erguer as sobrancelhas e dizer assim, num tom blasé: “Ah, mas isso é tão 2019…”.

Quando, no futuro, uma liderança política elogiar um torturador ou pedir a volta do AI-5, poderemos dizer: “Ah, mas isso é tão 2019…”

Quando parlamentares invadirem faculdades para caçar comunistas em vez de prestar solidariedade pelas condições de trabalho dos professores: “Ah, mas isso é tão 2019…”

O tom de repulsa, de cansaço embutido na frase é fundamental para rejeitar o ano que consagrou a solidariedade de mafioso: ataques aos membros da “famiglia” foram repudiados enquanto as violências contra opositores foram celebradas com um silêncio eloquente.

Quando um pastor relativizar um massacre num baile funk. Um helicóptero metralhar uma favela.

Catástrofes ambientais forem encaradas como guerra ideológica. Quando a grosseria for celebrada como autenticidade. Quando, por razões políticas, faltar empatia por um amigo querido, por um familiar. Quando mentiras forem inventadas, com método, para atacar reputações —e ninguém for punido por isso.

“Ah, mas isso é tão 2019.”

A extrema-unção de 2019, no entanto, só será possível quando o comportamento reativo, sectário e míope da oposição for revisto. E a oposição, no frigir dos ovos de 2019, contava com nomes tão heterogêneos quanto Nando Moura, Marcelo Freixo, Djamila Ribeiro, Joice Hasselmann, Gleisi Hoffmann e Wilson Witzel.

O problema é o vazio de novas ideias que apontem para um caminho de desenvolvimento com empatia, liberdade e um pouco de dendê. Responder às teorias malucas da conspiração, às violências, às mentiras deu trabalho. Mas o comportamento reativo fez com que a oposição corresse atrás do rabo. Isso, sim, é muito 2019.

É preciso voltar a inspirar as pessoas. Essa é a nova tendência para 2020.

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