Siga a folha

Humorista, membro do coletivo português Gato Fedorento. É autor de “Boca do Inferno”.

Um desenho beijou outro desenho

Há garotos que, imitando o Super-Homem, se atiram da janela e morrem

Continue lendo com acesso ilimitado.
Aproveite esta oferta especial:

Oferta Exclusiva

6 meses por R$ 1,90/mês

SOMENTE ESSA SEMANA

ASSINE A FOLHA

Cancele quando quiser

Notícias no momento em que acontecem, newsletters exclusivas e mais de 200 colunas e blogs.
Apoie o jornalismo profissional.

Cuidado, crianças! Um desenho beijou outro desenho. Abriguem-se! Eu vi e temi pela saúde dos meninos e das meninas. Era chocante: alguns segmentos de reta e um conjunto de linhas curvas beijavam outro grupo de segmentos de reta e linhas curvas. Uma indecência geométrica.

Estava num livro dos Vingadores e as crianças podiam lê-lo e depois tentar imitar os seus heróis. Já tem havido garotos que, tentando imitar o Super-Homem, se atiram da janela e morrem. Mas ninguém tentou proibir os livros do Super-Homem (ou as janelas). Quando dois desenhos se beijam é mais grave. O prefeito do Rio, Marcelo Crivella, percebeu bem o que estava em causa e mandou retirar o livro da Bienal.

Prefeitos de cidades que têm problemas graves talvez não possam perder tempo e meios enviando funcionários com a missão de capturar perigosos livros de quadrinhos, mas no Rio de Janeiro a vida é tão tranquila que é possível atacar questões como essa.

Claro que há sempre gente que grita censura e lembra a existência de uma coisa chamada, se não me engano, “lei”. Mas normalmente são pessoas sem credibilidade nem conhecimento das matérias 
jurídicas, como juízes do Supremo Tribunal.

Crivella explicou que não se tratava de censura, mas de um exame oficial de uma obra e seu posterior confisco. Nada a ver com censura. E depois bebeu um pouco de líquido que não era água, mas sim uma substância transparente, incolor, insípida e inodora cuja fórmula química é H2O.

É urgente evitar que a garotada leia os Vingadores e comece a ler livros apropriados à sua idade e que defendam os valores da família —como a Bíblia.

Histórias edificantes como a de Gênesis, capítulo 19, versículo 31, em que as filhas de Ló o embebedam, se deitam com ele e engravidam do próprio pai. Ou o também célebre episódio do primeiro livro de Samuel, capítulo 18, versículo 25, em que Saul exige a Davi cem prepúcios de filisteus como dote para casar com a sua filha, e depois Davi vai para a guerra e recolhe 200 prepúcios de filisteus, ganhando com distinção o direito a ser genro do rei.

Essas sim são histórias que as crianças devem ler em livros de quadrinhos. Em nome da moral e de tudo quanto há de mais decente, alguém que desenhe 200 prepúcios e mostre a uma criança. Por favor.

Receba notícias da Folha

Cadastre-se e escolha quais newsletters gostaria de receber

Ativar newsletters

Relacionadas