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Humorista, membro do coletivo português Gato Fedorento. É autor de “Boca do Inferno”.

Interpretar literalmente uma frase satírica produz um efeito bastante cômico

O escritor João Paulo Cuenca fez uma paródia de uma frase antiga que, evidentemente, não pretende incitar à violência

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O escritor João Paulo Cuenca escreveu que "o brasileiro só será livre quando o último Bolsonaro for enforcado nas tripas do último pastor da Igreja Universal", uma paródia de uma frase antiga que, evidentemente, não pretende incitar à violência —como aliás parece ser comprovado pelo fato de, no momento em que escrevo, nenhum Bolsonaro ter sido enforcado nas tripas de um pastor.

Mas vários pastores da Igreja Universal têm processado o escritor em inúmeros pontos do país, uma tática conhecida que se destina a fazer o acusado perder tempo, dinheiro e, com sorte, condená-lo à miséria.

Quase ao mesmo tempo, na França, outros fanáticos religiosos cortaram a cabeça a um professor, igualmente por delito de opinião. No Brasil, o objetivo é que Cuenca perca a cabeça pelo menos metaforicamente.

Parece que o brasileiro só será livre quando o último pastor da Igreja Universal souber distinguir uma sátira de uma declaração literal.

Sempre que um analfabeto interpreta literalmente uma frase satírica produz-se um efeito bastante cômico. É uma situação idêntica à de um cliente que, num restaurante, chama o chef para dizer: "Este é o pior quindim que eu já comi na minha vida".

E o chef responde: "O que o senhor está a comer é feijoada".

E o cliente insiste:"Não. É quindim. E é péssimo, uma vez que só me sabe a feijão".

A questão é que, se Cuenca estivesse a falar a sério, ele não mereceria ser preso, mas, sim louvado. Propor o enforcamento em tripas de pastor é um método extremamente ineficaz de matar Bolsonaros.

Se os assassinos competentes merecem a prisão, os incompetentes merecem elogio.

A nossa sociedade prospera de duas maneiras: com menos bandidos ou com mais bandidos incompetentes. Se quiserem mesmo ser literais, enforcar Bolsonaros em tripas de pastores não mata Bolsonaros nem pastores.

O intestino humano tem seis a nove metros de comprimento. É perfeitamente possível tirar dois metros de um pastor da IURD (mais do que suficiente para um enforcamento) e mantê-lo vivo e saudável.

E, com a elasticidade da tripa, o nó não seria sólido o bastante para matar qualquer Bolsonaro. Não haveria um enforcamento, haveria bungee jumping com tripas. Proponho que o tribunal faça uma simulação, para tirar dúvidas.

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