Sinceramente, agradeço. Era uma dúvida que eu tinha: até que ponto a gente tolera cretinice? Quando Trump revelou o modo como lidava com mulheres bonitas que acabava de conhecer, desculpou-se dizendo que se tratava de conversa de vestiário. Muita gente concordou. Eu também. Porque, supus, estávamos a falar do vestiário da prisão. Acredito que seja o tipo de conversa que decorre lá.

Entretanto, Bolsonaro disse ter tido quatro filhos e uma filha, pois, depois de ter concebido os quatro homens, deu uma fraquejada. Ele já tinha revelado que não estupraria uma deputada porque ela não fazia seu gênero, e tinha acusado uma jornalista de querer "dar o furo".

Os filhos que Bolsonaro teve sem fraquejar também têm produzido várias declarações que costumam ser consideradas manifestações de "masculinidade tóxica". Discordo da designação. Por uma razão simples: aquilo não é masculinidade. Quando um touro defeca, isso não é bovinidade tóxica. Não decorre do fato específico de ele ser um boi, mas sim do fato geral de ele ser um animal. Mas agora, finalmente, descobrimos o nosso limite.

Quando as opiniões de Arthur do Val, conhecido pelo apelido Mamãe Falei, se tornaram públicas, percebemos que a nossa linha vermelha era aquela. E também ficou clara a razão pela qual o deputado é, ao que parece, o orgulho de sua mamãe sempre que fala.

Confrontado com o horror da guerra, ele conseguiu operar um milagre de que só os maiores poetas são capazes: descobrir, no meio da devastação, uma flor. No caso, contemplou o cenário desolador e notou que as mulheres ucranianas, além de bonitas, são, e cito, "fáceis, porque são pobres".

Todos pensávamos que nada de bom podia sair da guerra, mas Arthur do Val descobriu um aspecto positivo. Infelizmente, essas declarações assinalaram o fim da nossa tolerância à cretinice. Até Bolsonaro as considerou asquerosas, que é a maior condenação possível.

Quando Bolsonaro acha que uma opinião sobre mulheres é inaceitável, sabemos que alguma coisa muito grave foi dita.

Agora resta saber que tipo de punição social vai ter Arthur do Val. Espero que não seja alvo de um ostracismo tal que o condene à miséria. Embora essa condição de vulnerabilidade o tornasse fácil. E se alguém consegue encontrar o lado positivo dessa circunstância é ele.