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Humorista, membro do coletivo português Gato Fedorento. É autor de “Boca do Inferno”.

Brasil sai do Sete de Setembro com imagem de país totalmente gagá

Os protagonistas da festa foram uma víscera do primeiro chefe de Estado do país e uma extremidade do último

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As celebrações do duplo centenário do Brasil parecem ter revelado o que muitos temiam: aos 200 anos, o país está gagá. Primeiro, o presidente recebeu no Palácio do Planalto uma víscera vinda de outro continente. Depois, discursou perante uma multidão de apoiadores e se gabou de ser "imbrochável".

Apesar de falarmos a mesma língua, em Portugal nós não usamos a palavra "imbrochável", por isso tivemos de recorrer ao dicionário. O que significaria? O que poderia um chefe de Estado estar a se vangloriar de ser, no bicentenário do seu país? Corajoso? Responsável? Sensato?

Ilustração publicada em 11 de setembro de 2022 - Luiza Pannunzio

Com alguma surpresa, descobrimos que a palavra queria dizer "aquele que não perde a potência sexual". Mais surpreendente ainda foi o fato de a cerimônia não ter prosseguido com um concurso de arrotos. A psicologia alega ter descoberto que a fanfarronice costuma camuflar uma insegurança, mas não me custa a acreditar que Bolsonaro esteja a dizer a verdade.

Todo aquele sangue que manifestamente não está a irrigar o cérebro tem de ter ido para algum lugar. Por outro lado, mesmo antes de encomiar a sua própria potência, Bolsonaro elogiou a pujança da economia brasileira e afirmou que a inflação "está despencando".

Sucede que o IPCA está em 10%, no acumulado de 12 meses. O leite aumentou mais de 60% no último ano. A batata inglesa aumentou quase 70%. Talvez ele se tenha equivocado. É possível que, entre a inflação e a sua própria masculinidade, ele tenha confundido o que continua a subir com vigor e o que já está despencando.

O mais irônico, no entanto, é que, quando vejo o vídeo em que Bolsonaro proclama a sua potência sexual, eu perco um pouco da minha.

Creio que passarei a chamar aquele momento à memória sempre que me achar, digamos, demasiado entusiasmado.

Em resumo, os protagonistas do bicentenário do Brasil foram uma víscera do primeiro chefe de Estado do país e uma extremidade do último. Não se pode dizer que tenha sido uma festa tradicional.

Festas de aniversário, sobretudo de aniversariantes de idade vetusta, como era o caso, costumam ter menos referências a miudezas. Parecia mais uma despedida de solteiro.

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