Ricardo Araújo Pereira

Humorista, membro do coletivo português Gato Fedorento. É autor de “Boca do Inferno”.

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Ricardo Araújo Pereira
Descrição de chapéu

Se você vir um Bolsonaro de mala, saiba que ele está indo comprar um imóvel

Dinheiro vivo é bom caso você queira adquirir uma maçã, mas não o armazém

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Quando, em 2018, Bolsonaro deu uma entrevista dizendo que, na sua declaração de bens ao Tribunal Superior Eleitoral, afirmava não ter dinheiro em casa, muitos brasileiros sentiram-se representados. Eles também não tinham dinheiro em casa. Nem em nenhum outro lado.

Dilma, por exemplo, tinha declarado possuir R$ 152 mil em espécie, mas Bolsonaro disse que era diferente: "Eu não guardo dinheiro no colchão". E disse ainda que pagava tudo por transferência bancária, até porque, acrescentou, é arriscado andar com dinheiro: "pode ser roubado".

No desenho de Luiza Pannunzio o presidente da república está a postos segurando algumas notas de dinheiro nas mãos unidas ao final da barriga. De paletó, camisa, calça curta, meias e sapatos em cima de uma pilha de dinheiro vivo. Algumas notas escapam e voam pelo espaço.
Publicada neste sábado, 3 de setembro de 2022 - Luiza Pannunzio

Essa frase era admiravelmente ambígua. De fato, quando se anda com muito dinheiro, ele pode ser roubado —tanto no sentido de que o podem roubar, como no sentido de que há a hipótese de suspeitarmos que a pessoa que o tem pode o ter roubado.

Quatro anos depois, uma reportagem do portal UOL revela que, desde os anos 1990, o presidente e seus familiares compraram 51 imóveis total ou parcialmente com dinheiro vivo.

Tenho de confessar que não conheço ninguém que alguma vez tenha comprado um imóvel com dinheiro vivo. O que significa, evidentemente, que também não conheço ninguém que tenha comprado 51 imóveis com dinheiro vivo. Talvez neste ponto eu deva aproveitar para me penitenciar por não ter amigos sicilianos. Mas difícil mesmo deve ser conhecer alguém que, não estando na posse de dinheiro vivo, tenha conseguido comprar imóveis com dinheiro vivo. Esse é o truque mais difícil de fazer.

A verdade é que, mesmo estando na posse de dinheiro vivo, é difícil comprar imóveis com dinheiro vivo. Comprar uma maçã com dinheiro vivo é fácil; comprar o armazém das maçãs com dinheiro vivo é mais complicado.

A primeira dificuldade é convencer o vendedor. Eu já vendi alguns imóveis na minha vida e, se o comprador tivesse querido fazer o negócio com dinheiro vivo, eu não teria aceitado. Até porque nunca transacionei imóveis na Sicília. Sou preguiçoso e o trabalho que dá contar aquelas notas todas não compensa a vantagem de vir a possuí-las.

A segunda dificuldade é de ordem logística. A quantidade de notas necessárias para comprar um imóvel é bastante volumosa. Se parte da quantia for em moedas, mais ainda. Quando vejo pessoas na rua com malas de viagem, me habituei a supor que vão a caminho do aeroporto. Se forem da família Bolsonaro, em princípio vão comprar uma casa.

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