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Humorista, membro do coletivo português Gato Fedorento. É autor de “Boca do Inferno”.

Oxford deve ter pedido para o ChatGPT escolher a palavra do ano

Curiosamente, embora o termo 'rizz' indique a habilidade de seduzir, ele não é capaz de me cativar

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Quando, esta semana, se soube que a Universidade de Oxford tinha escolhido "rizz" como palavra do ano, lembrei-me que, no mês passado, a Universidade de Cambridge tinha escolhido "hallucinate".

De acordo com as notícias, "rizz" é uma forma abreviada da palavra carisma. Ao que parece, é o modo como uma determinada geração define a capacidade de atrair ou seduzir alguém.

Ilustração de Luiza Pannunzio - Folhapress

Se uma pessoa é particularmente sedutora, essa pessoa tem rizz. Mas hallucinate refere-se ao momento em que um dispositivo de inteligência artificial produz informação falsa. Dele se diz então que alucinou.

É possível que rizz seja produto de uma alucinação. Talvez Oxford tenha pedido ao ChatGPT que escolhesse a palavra do ano e ele tenha alucinado. De acordo com a Wikipédia, a palavra rizz foi cunhada por Kai Cenat, youtuber e streamer do Twitch, em maio de 2021. E este mesmo prestigiado lexicógrafo disse que, ao contrário do que os jornais dizem, rizz não é uma abreviatura de carisma.

É apenas um conjunto de sons que ele inventou em 2021. Ora, não sei que meios frequenta quem em Oxford escolhe a palavra do ano, mas eu nunca ouvi ninguém a articulá-la. E devo confessar, sob pena de condenarem o meu reaccionarismo linguístico, que jamais usei nem tenho intenção de alguma vez vir a usar a palavra rizz.

Curiosamente, a palavra que indica a habilidade de seduzir não me seduz. Concebo a ideia de recorrer a palavras inventadas em 2021 para referir coisas inventadas em 2021 que ainda não tinham termo que as designasse, mas não vejo a utilidade de usar vocábulos inventados por youtubers para designar o que sempre existiu.

Os responsáveis pelo dicionário de Oxford parecem aquele tio que, sendo já uma pessoa de meia-idade, mantém a vontade de ser jovem e, por isso, dedica-se a reproduzir o linguajar dos jovens.

Não funciona, não só porque o tio já não é jovem, mas também porque o linguajar dos jovens, ironicamente, envelhece muito depressa. As palavras usadas pelos jovens hoje ficam velhas ou morrem já amanhã.

Sei disso porque agora já ninguém usa as palavras com que eu me exprimia quando era jovem – nem eu. Em resumo, não há nada que tenha menos rizz do que alguém que está desesperadamente a tentar ter rizz.

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