Siga a folha

Risadas para Trump são uma grande imagem dos tempos atuais

Numa época em que mentir virou o novo normal, espanta a reação na ONU

Conteúdo restrito a assinantes e cadastrados Você atingiu o limite de
por mês.

Tenha acesso ilimitado: Assine ou Já é assinante? Faça login

A cada ano, no terço final de setembro, o mármore verde da tribuna da Assembleia Geral da ONU serve de pano de fundo para um lembrete simples, o de que vivemos num planeta. Numa mesma sala, reúnem-se pessoas de diferentes países, cores e credos, que falam diversas línguas, nem todas elas vestidas como manda o figurino ocidental.

É lembrança que se tornou deveras importante. Infelizmente, mostra-se cada vez mais inútil e fugaz. Passados os dias de abertura, a Assembleia em Nova York mergulha de volta na inutilidade, da qual emergirá apenas no setembro seguinte.

Só que neste 2018 o evento da ONU produziu história. As risadas para Donald Trump já estão entre as grandes imagens políticas da década. Vindas de uma plateia de chefes de Estado e esfregadas na cara do presidente americano em sua cidade natal, elas compõem, em segundos, uma cena que indica com precisão o ponto a que as coisas chegaram.

Não havia ali comédia —as pessoas riem, mas não é porque aquilo tem graça. Tampouco era o teatro da política de sempre.

Mentir descaradamente virou de tal forma o novo normal que o espanto agora advém de ver que os ouvintes se espantam com a mentira.

“Não esperava essa reação”, declarou Trump na tribuna, numa contrarreação cheia da mais sincera hipocrisia. O vídeo é imperdível.

Importou menos haver também verdades no que ele disse, inclusive sobre desemprego baixo e Bolsa em alta. O inverso predomina.

Em editorial, o jornal The New York Times contextualizou o insólito da situação: “Donald Trump fez campanha dizendo que o ‘mundo ri de nós’. Agora ele está realmente rindo —dele”. Nas palavras do diário, o presidente confundiu a Assembleia Geral da ONU com um palanque de comício doméstico, dado que, diante da plateia global, privilegiou temas americanos. Pois ao fazer isso Trump deu razão a Guimarães Rosa: é mesmo possível explicar o mundo falando do seu sertão.

Receba notícias da Folha

Cadastre-se e escolha quais newsletters gostaria de receber

Ativar newsletters

Relacionadas