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Professor catedrático convidado na NOVA School of Business and Economics, em Portugal. Nomeado Young Global Leader pelo Fórum Econômico Mundial, em 2017

Contamos com o pragmatismo dos EUA para colocar a agenda climática em prática, diz Salles

Em entrevista por escrito, ministro do Meio Ambiente fala dos grandes temas da agenda econômica e ambiental de 2021

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Ricardo Salles é o mais contestado dos 19 ministros que já lideraram a pasta do Meio Ambiente desde a restauração da democracia. Em entrevista exclusiva à coluna, ele mantém o seu tradicional tom belicoso ao contestar ONGs e o “protecionismo europeu” que dificulta, na sua ótica, a ratificação do tratado de livre comércio entre a União Europeia (UE) e Mercosul.

Porém, num ano em que temas ambientais ganharão destaque devido à realização, em Glasgow, da 26ª Conferência das Partes sobre a Mudança Climática (COP26), Salles acena ao pragmatismo do novo presidente americano, Joe Biden, e apresenta uma novidade: o mercado regulado brasileiro de carbono.

Se devidamente instituído, o Brasil poderá começar a comercializar créditos de redução de emissão dos gases de efeito estufa, conhecidos como créditos de carbono, um anseio antigo tanto de ambientalistas quanto de empresários. E sobre o mercado ESG? Para Salles “é chegada a hora de separar o discurso da prática.”

O tratado de livre comércio entre a UE e o Mercosul foi assinado em 2019, mas ainda necessita ser ratificado. O principal ponto de atrito é a aderência do Brasil a temas ambientais. O que falta o governo fazer para que o acordo seja implementado o mais rapidamente possível?

O tratado tem potencial de melhorar, e muito, a qualidade de vida, a prosperidade e os padrões em ambos os blocos, inclusive no aspecto ambiental. Portanto, implementá-lo significaria melhorar a defesa do meio ambiente e não o contrário. Há que se fazer um esforço para distinguir, em meio a essa questão, o que é legítima preocupação ambiental do que é protecionismo disfarçado.

Recentemente, o Brasil despertou para as finanças sustentáveis (ESG). Na sua visão, qual o papel do mercado financeiro e das empresas para a agenda ambiental?

Fundamental, mas muitos falam bonito sobre meio ambiente em seus relatórios de sustentabilidade, mas poucos colocam, de fato, a mão no bolso. É chegada a hora de separar o discurso da prática.

Em alguns países, a agenda ESG tem sido fomentada pelos respectivos governos. Por que o governo Bolsonaro negligencia essa pauta?

Não negligencia. A diferença é que tratamos as questões ambientais de forma muito tangível e prática. Não achamos que seminários, palestras e estudos intermináveis são a solução. Muito menos acreditamos que continuar irrigando ONGs e academia com bilhões de reais anualmente vai resolver os problemas.

Como se sentiu quando, em julho passado, fundos estrangeiros que administram R$ 20 trilhões criticaram as políticas ambientais do Brasil e ameaçaram desinvestir do país?

Faz parte. Ouvimos as críticas, refletimos e a pergunta que vem em seguida é: ok, vai pagar quanto para ajudar a resolver o problema? De discurso já estamos cheios. Quero ver quem vai colocar a mão no bolso, de verdade.

Qual a opinião do governo sobre a criação de um mercado global de créditos de carbono? E quando teremos o tão ambicionado mercado brasileiro regulado de carbono? O que falta fazer depois do presidente Bolsonaro ter sancionado este mês a lei que institui a Política Nacional de Pagamento por Serviços Ambientais?

Somos totalmente a favor do mercado de carbono. Aliás, o presidente Bolsonaro já o estimulou através de três decretos em dezembro de 2019 permitindo que o setor privado voluntário pudesse negociar créditos, assim como estados. Além disso, permitiu créditos de floresta nativa, contrariando o lobby das florestas plantadas. Nós, por outro lado, é que estamos aguardando o fim do protecionismo europeu, que fechou seu mercado de carbono desde 2009. Eles inviabilizaram a COP em Madrid e seguem sem deixar avançar nos mecanismos do Acordo de Paris que preveem tal mercado.

Em novembro será realizada a COP26 no Reino Unido, um país reconhecido por sua liderança climática. Todos os países irão prestar contas cinco anos após o Acordo de Paris e anunciar metas mais ambiciosas de redução de emissões. Além disso, nessa altura, o presidente Biden já deverá ter retomado o Acordo. Quais são as ambições do governo brasileiro para o evento?

Temos boas expectativas. Estamos contando com o pragmatismo dos Estados Unidos para ajudar a colocar em prática essa agenda. A Europa consumiu suas florestas e segue ininterruptamente queimando combustíveis fósseis há mais de 200 anos. Nada mais justo que ajudem a pagar a conta do problema climático que criaram.

Quando terminar o seu mandato, como gostaria de ser lembrado pelos brasileiros e pela comunidade internacional?

Por alguém que teve a coragem de dizer as verdades inconvenientes que o patrulhamento da esquerda teima em tentar esconder e mostrar que prosperidade econômica é condição essencial para boas práticas ambientais.

E como acha que vai ser lembrado?

A história vai dizer.

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