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Professor da New York University Shanghai (China) e da Fundação Dom Cabral. É doutor em economia pela UFRJ.

Os robôs vão tomar seu emprego, mas tudo bem

Superestimamos os efeitos da tecnologia sobre o desemprego, mas subestimamos aqueles sobre desigualdade de renda

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Inteligência artificial (IA) e automação vão roubar muitos empregos, mas, se o medo é o aumento do desemprego, podemos ficar tranquilos. Isso não significa que os efeitos sobre a sociedade serão neutros.

Superestimamos os efeitos dos avanços tecnológicos sobre o desemprego, mas subestimamos aqueles sobre desigualdade de renda. 

Processos de decisão e previsão serão automatizados, mas a maioria será de processos intermediários.

Na medicina, por exemplo, muitos tipos de diagnóstico já são mais bem-feitos por IAs, e robôs já ajudam em operações complexas. O impacto sobre a produtividade vai ser gigantesco, mas a automação completa vai levar décadas. 

A visão equivocada da relação entre novas tecnologias e desemprego vem da crença na existência de empregos estáveis no setor privado e desconhecimento sobre a dinâmica do mercado de trabalho. 

Mesmo se definirmos um trabalho estável como a situação de a pessoa estar somente há dois anos no emprego e ainda ignorarmos as empresas que fecharam, esse tipo de ocupação sempre foi minoria (como mostram Laura Connolly, Renata Narita e outros).

A indústria manufatureira tem a maior proporção de empregos estáveis, e esses não chegam a 30% do total. Em educação e serviços financeiros? 5%. 

Em média, há uma probabilidade mensal de 3% a 5% de um trabalhador brasileiro perder o emprego no setor privado. Empresas e empregos são criados (e destruídos) numa velocidade maior do que muitos imaginam.

Por exemplo, no Brasil foram criados empregos suficientes para absorver o aumento da participação feminina no mercado de trabalho (13% das mulheres estavam no mercado em trabalho em 1950, e 50%, em 2010). Grande parte dos empregos é criada por novas empresas.

Há dinamismo também lá fora. Nos EUA, espera-se que quem nasceu entre 1957 e 1964 tenha cerca de 12 empregos ao longo da vida. Esse número é maior para a atual geração, mas não muito. Muito do que se escreve sobre ciberprecarização do trabalho se baseia na ideia de que empregos estáveis eram comuns. Nunca foram.

O mercado de trabalho vai continuar absorvendo mulheres que buscam emprego e incorporando novas tecnologias sem aumento estrutural de desemprego. Pode ser que aumente a taxa de troca de empregos, mas não é provável. O desemprego atual não é estrutural, é resultado da crise.

Mas o impacto de automação sobre a desigualdade de renda é quase certo. Nos EUA, os maiores ganhos de renda vão para trabalhadores qualificados. 

No Vale do Silício, a maior renda dos trabalhadores (e mais restrições à construção de residências) eleva de tal forma aluguéis que esse gasto consome todo o salário de alguém que faz US$ 100.000 anuais brutos por ano (o equivalente a R$ 30.000 por mês). Não é problema para quem trabalha em empresas de tecnologia, nas quais mais de 50% dos empregados recebem mais de US$ 200.000 por ano. 

Em outras áreas, como a de serviços, salários também sobem para suprir a demanda local. Ser consumidor de tecnologia, como o Brasil, não muda o padrão. Salários e número de empregados em diversos setores aumentam, enquanto caem em outros.

A real questão é como a sociedade brasileira vai lidar com os impactos sobre a (já péssima) desigualdade de renda. Alguns acham que programas universais de renda vão ajudar. Não vão. 

Não há solução fácil à vista, mas discutir a real consequência negativa, desigualdade, e não desemprego, já seria um bom primeiro passo.

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