Rodrigo Zeidan

Professor da New York University Shanghai (China) e da Fundação Dom Cabral. É doutor em economia pela UFRJ.

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Rodrigo Zeidan

Se alguém se apresentar a você como pós-doutor para impressioná-lo, fuja

Nossas embaixadas em palácios na Europa são prova de que não somos sérios

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Se alguém se apresentar a você como pós-doutor para impressioná-lo, fuja. É enganação. Pós-doutorado não é título e é normalmente feito por quem acabou o doutorado e não conseguiu uma boa oferta de emprego. 

No Brasil, a difusão de pós-docs para professores muitas vezes seniores é uma forma de internacionalizar a pesquisa. Como somos fechados (nossas provas de concurso para professores são ridículas e só servem para manter reserva de mercado), mandar gente para fora com bolsa de pós-doutorado faz algum sentido. Mas o professor, na verdade um assistente de pesquisa de luxo, declarar-se pós-doutor? Não dá.

Coisa parecida acontece com o título de MBA no Brasil. Pouquíssimas escolas realmente têm tal programa, na forma como ele é conhecido no mundo. Um bom MBA requer dedicação quase exclusiva e é feito por profissionais no meio de carreira que querem subir a cargos de liderança. 

No Brasil, o que temos são especializações, muitas vezes complemento de graduação, sendo chamadas de MBAs. Nada de errado com alguém procurar se especializar em gestão financeira ao sair da faculdade, mas estufar o peito para dizer que tem um MBA? Não dá.

 

Tenho certeza de que ditadores genocidas sentem muita inveja do Brasil quando passeiam por Paris, Londres ou Roma. 

Nossas embaixadas nessas capitais são prova de que não somos sérios. Só país de Quinto Mundo joga milhões em suntuosas instalações. Em Roma, a embaixada fica num palácio histórico na piazza Navona. Tenho vergonha sempre que passo por lá.

Não precisa ser assim. Em Xangai, o consulado fica no 7º andar de um prédio comercial e presta serviços de deixar de queixo caído qualquer brasileiro acostumado com a nossa burocracia kafkiana. 

O tratamento é cortês e profissional, e qualquer um fica impressionado com o excelente ambiente de trabalho e a qualidade dos serviços consulares. 

Não precisamos de palácios nababescos para fazer diplomacia. E não fica só nisso. As casas de embaixadores parecem saídas de uma novela vitoriana do século 19, com embaixadores no papel de altos comissários cercados do bom e do melhor para não ter que se sujeitar a conviver com a gentalha. 

Mordomos, choferes e caviar, com a desculpa de que precisamos disso para tecer acordos que tragam valor para o país. Mas, na verdade, o Itamaraty é uma das maiores barreiras para abrirmos a economia. Mais profissionalismo e menos colonialismo. Do jeito que está não dá.

 

Para não ficar só na rabugice. Na década de 1960, Made in Japan era sinônimo de produto ruim. O mesmo ainda acontece com Made in China hoje. 

Mas o caminho que o Japão seguiu para se tornar uma potência tecnológica agora é trilhado pelos chineses. O país está para se tornar o líder em inteligência artificial e machine learning. 

Os investimentos, públicos e privados (não se engane, a China é o país mais capitalista do mundo), são mais produtivos por um simples motivo: maior disponibilidade de dados, para o bem e para o mal. 

Enquanto na Europa entrou em vigor o GDPR (Regulamento Geral de Proteção de Dados, na sigla em inglês), que dá muito maior controle às pessoas sobre seus dados, na China há pouco controle sobre a privacidade de dados.

Empresas têm acesso e podem usar, nas suas pesquisas para criar sistemas de aprendizado de máquinas, uma montanha de dados que tornam esses sistemas muito melhores de forma muito mais barata e rápida que na Europa (e nos EUA).

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