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Professor da New York University Shanghai (China) e da Fundação Dom Cabral. É doutor em economia pela UFRJ.

A década perdida

PT, MDB ou PSL, todos os governos do período foram ou são horrorosos

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Que tal se lhe dissessem que num país qualquer a renda da população (PIB per capita), ao longo de dez anos, saiu de R$ 31.600 (ajustados pela inflação) por ano para R$ 31.800? 

E se, além desse aumento de renda de mísero 0,07% ao ano, lhe dissessem que o desemprego, que começou a década em 8%, terminou em 11,2%? Que a taxa de homicídios saltou de 25 por 100 mil habitantes para 29? Que foram 560 mil homicídios no período? 

Que a desigualdade de renda apresentou redução na segunda casa decimal e ainda está entre as piores do mundo? E que o Índice de Desenvolvimento Humano também teve uma melhora pífia, de 0,73 para 0,76, sendo a maior razão o final do processo de universalização de ensino, que continua ruim de doer?

Para finalizar, nesse país, o Brasil, é claro, as pessoas também se sentem pior —o índice de felicidade despencou, de 6,83 (numa escala de 0 a 10) para 6,2 (a pior queda foi a confiança no governo, que caiu de 0,5, sendo no máximo 1, para 0,16). Tudo roda, mas nada muda.

Os anos 1980 agora têm companhia. Os anos 2010 foram mais uma década perdida, e não há, por enquanto, sinais de que os que vêm aí vão ser diferentes (para não ficar só em má notícias, acesso à informação, preço de ligação, telefone celular e alguns outros indicadores tornaram a vida dos mais pobres um pouco melhor). 

E, antes que venham com preciosismo, a década é um período qualquer de dez anos e, aqui, uso como década um critério no qual os anos se iniciam por 201. PT, MDB ou PSL, todos os governos do período foram ou são horrorosos (o último bom governo do país foi o primeiro governo Lula). 

Estagnação ou retrocesso, não há outra forma de classificar esta década que está acabando. Que venha a próxima e que consigamos sobreviver ao governo de extrema-direita sem maiores danos.

Pelo menos 2019 trouxe vários livros interessantes. Infelizmente, os dois de que mais gostei não foram traduzidos, mas vale o esforço de lê-los com dicionário na mão, se for o caso (foi assim que aprendi inglês e me serviu bem, embora bem trabalhoso). 

Destaco principalmente "Never Enough", de Judith Grisel, que aborda os mecanismos da dependência química por uma perspectiva única, já que a autora, renomada neurocientista, foi viciada em drogas por anos. 

Também sugiro "Capitalism, Alone", por um dos papas da discussão sobre desigualdade, Branko Milanovic.

Como resolução de Ano Novo, recomendo, para quem possa, trabalhar de forma mais inteligente. Embora haja variações individuais, a melhor forma de ser produtivo na criação ou aprendizado é executar algo de forma intensa e curta, repetindo o processo duas ou três vezes por dia.

Infelizmente, às vezes ignoramos o conceito básico de produtividade marginal decrescente. Nosso cérebro não é uma máquina perfeita, e não há quantidade de café que faça alguém manter a concentração por longos períodos de tempo. 

É por isso que estudar na véspera da prova não adianta. Oito horas de estudo em um dia é muito pior que uma hora por dia por oito dias seguidos. Isso vale em rotina de escritório e trabalhos manuais. Quanto mais intenso o trabalho, maior a necessidade de paradas para diminuir erros. 

Alguém vira expert em algo artesanal somente depois de milhares de horas repetindo o trabalho, quando a produção passa a ser automática. Trabalhar menos e melhor deveria ser sempre um objetivo para todos nós, acadêmicos ou não. 

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