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Jornalista e escritor, autor das biografias de Carmen Miranda, Garrincha e Nelson Rodrigues, é membro da Academia Brasileira de Letras.

O pai do neo-irrealismo

Todos os filmes de Fellini contêm um toque mágico que os tornou inesquecíveis

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Por mais que o mundo tenha celebrado Federico Fellini por seu centenário no último dia 20, nossa dívida para com ele nunca será quitada. Poucos diretores terão sido tão responsáveis pela conversão de tantos à ideia do cinema como “arte” —uma geração, nos anos 50, apaixonou-se por “A Estrada da Vida”; outra, nos anos 60, por “A Doce Vida”; e ainda outra, nos anos 70, por “Amarcord”.

E há os que, como eu, sempre fomos gratos a Fellini pela emenda que ele fez à severa escola cinematográfica de seu tempo, o neo-realismo. Fellini conseguiu inserir nela um toque de neo-irrealismo.

E fez isto já a partir de “Roma, Cidade Aberta” (1945), de Roberto Rosselini, o filme que inaugurou o movimento e de cujo roteiro participou. Sua grande contribuição foi a cena em que Aldo Fabrizzi, no papel do padre, entra numa loja de bricabraque e, antes de ser atendido, vê a estatueta de uma mulher com a bunda de fora. Então, com ar maroto, vira-a de lado para disfarçar-lhe a nudez. Notar que isso se dá num contexto dramático que logo resultará em tortura e morte. Só Fellini para pensar em tal coisa —e, se nem todos o seguiram, ele seguiu a si próprio. 

De memória: em “Abismo de um Sonho” (1952), a imagem mágica de Alberto Sordi, vestido de xeque, no balanço entre as árvores. Em “A Estrada da Vida” (1954), a pungente Gelsomina, vivida por Giulietta Masina, que Walt Disney queria transformar em personagem de desenho animado. Em “A Doce Vida” (1960), o personagem de Lex Barker desmaia bêbado, dentro de um carro, e alguém comenta, “E pensar que ele era o Tarzan...”. No episódio de “Boccaccio ’70” (1962), as freiras cujos chapéus batem asas como cegonhas. E muitas mais. 

Se é verdade que alguns artistas fingem que se levam a sério e outros fingem que não se levam, Rosselini, Visconti e Antonioni estariam decididamente no primeiro grupo —e Fellini, que bom, no segundo.

Giulietta Masina no papel de Gelsomina, em 'A Estrada da Vida' - Coleção Fondation Fellini pour le cinéma, Sion

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